Auto-Reflexão: Nosso ponto de partida

Fala-se muito em autoestima, mas o que falta frequentemente é alter-estima. Trata-se de um conceito que ainda precisa ser encarnado em nossas relações cotidianas. “Aprender não é descobrir aquilo que outros já sabem, mas é resolver nossos próprios problemas para nossos próprios propósitos, questionando, pensando e testando, até que a solução seja uma nova parte de nossa vida”, afirmou Charles Handy.

Mergulhados e ensimesmados em nossos próprios problemas, pensamos ser suficientes os desafios que cada um precisa dar conta. Talvez por isso, a cultura da indiferença seja o que há de comum entre nós. Abrir-se, sair de si para contemplar a realidade do próximo tal qual fez o samaritano do evangelho não está na moda e não oferece brindes nas capas dos jornais. Ser solidário está mais para ser “trouxa” do que para um modelo a ser seguido e imitado.

Mesmo as situações dramáticas relatadas pelos Meios de Comunicação têm apenas o alcance de segundos em nossa emoção. Logo tudo passa a correr como se nada tivesse acontecido. O que falta é auto-reflexão! Um olhar atento sobre nós mesmos talvez indicasse substanciais e necessárias mudanças em nosso jeito de ser, se é que de fato buscamos a sabedoria do bem viver.

Temos ensinado aos nossos jovens e crianças a arte de pensar sobre as coisas, mas pouco praticamos a arte da escuta, do silêncio, da meditação e da admiração do belo que há no mundo e nos outros. Queremos conceituar tudo. Agimos rapidamente em rotular, encaixar as situações e os indivíduos em nossas imagens estereotipadas. Assim fica mais fácil tocar nossa vida em frente, sem muitos abalos em nossa rotina. Isso, entretanto, não nos ajuda no desenvolvimento e prosperidade de nossa própria humanidade.

Quem dera pudéssemos dar um tempo nessa desmedida ânsia de encher as cabeças e nos dispuséssemos a iluminar os corações, com propostas pedagógicas voltadas para práticas que promovam a cultura da escuta, da acolhida, da contemplação desta beleza que se chama alteridade, e com a qual podemos enriquecer-nos. Não seria este um possível caminho para o fim dos tantos dilemas vivenciados na escola desde sempre e que hoje levam a alcunha de bullying? Ao ensinarmos a arte do bem-viver não esqueçamos da arte do bem avaliar-se, do bem dispor-se às mudanças necessárias. São elas que nos abrem portas para um mundo mais tolerante e plural.

Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade