Avaliar a Missão é necessário!

 

Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. O Evangelho de domingo passado (Mc 6,7-13) descrevia que Jesus enviou os Doze em missão. Em seu ensinamento aos discípulos, este envio de Jesus caracteriza-se como um estágio pastoral. Os discípulos estavam aprendendo com Jesus, por isso, Ele os enviou “dois a dois” (Mc 6,7) para que pudessem desempenhar bem a missão. Nesta missão, eles “pregaram” o Evangelho, “expulsaram muitos demônios” e “curaram muitos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13). Aquilo que Jesus realizava, eles passaram a realizar também.

Prezados irmãos e irmãs. O Evangelho deste domingo (Mc 6,30-34) descreve o retorno da missão. Ao retornarem, os Doze “reuniram-se com Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado” (Mc 6,30). Então, Jesus realiza, com eles, uma avaliação do trabalho. Avaliar é um passo importante da caminhada, pois faz perceber os acertos, as falhas e as dificuldades. Certamente, eles conheceram momentos bonitos, mas também ficaram preocupados com a notícia da morte de João Batista, decapitado por Herodes (Mc 6,14-29). Diante disso, Jesus lhes propôs um momento à parte: “Vinde, vós, sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6,31a). Depois de uma intensa atividade, nada melhor do que retirar-se um pouco, deixar as funções, descansar, pois eles “não tinham tempo nem para comer” (Mc 6,31b), de tanta gente que os procurava. “E foram de barco para um lugar deserto e afastado” (Mc 6,32).

Porém, sabemos que quem tem necessidade, vai em busca de uma solução! “Muitos os viram partir e, sabendo disso, de todas as cidades correram para lá, a pé e chegaram antes deles” (Mc 6,33). Ao informar que as multidões, provenientes de diversas “cidades”, foram “a pé” ao encontro de Jesus significa que eram pobres e, distintamente da elite, colocavam-se abertas ao ensinamento de Jesus. Além disto, significa que um povo necessitado e empobrecido corre sem cessar em busca de esperança. O texto também faz ver que as necessidades do povo sofredor são maiores e mais urgentes que as dos discípulos. O versículo final do Evangelho é central. Ele diz que “assim que Jesus desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão, pois estavam como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34).

Caros irmãos e irmãs. Diante da multidão, a primeira atitude de Jesus foi de compaixão. Jesus se compadeceu diante dessa gente esmagada pelas lideranças que as explorava, lideranças que os profetas já haviam denunciado ao longo da história de Israel, como fez Jeremias na primeira leitura deste domingo, ao dizer: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se as ovelhas do meu rebanho. Assim diz Javé, o Deus de Israel, contra os pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, as expulsastes e não cuidastes delas. Eis que vou castigar-vos pela maldade de vossas ações” (Jr 23,1-2).

Jesus se compadeceu porque eram “como ovelhas sem pastor”. Como Javé, o Deus do êxodo, Jesus se compadece e assume a liderança dessa gente sofrida e oprimida por líderes voltados para si mesmos. O Evangelho de Marcos salienta que Jesus é o líder que está do lado dos pobres, conduzindo-os na construção de uma nova sociedade. “E começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34). O ensinamento de Jesus é conduzir as pessoas à prática da novidade do Reino de Deus. O ensino de Jesus gera partilha, dignidade, vida nova. Para nós, esse rebanho que recorre a Jesus, vindo de todas as cidades, significa todos os povos, hoje, excluídos, que lutam por um projeto de vida, tendo em vista, como diz a Carta aos Efésios, “criar um homem novo, estabelecendo a paz” (Ef 2,15).

Irmãos e irmãs. Tudo o que fazemos precisa, de vez em quando, ser avaliado com critérios, para nos mostrar o caminho que estamos seguindo. Com o passar do tempo e o cumprimento de tarefas, ou da missão, precisamos parar para perceber os resultados positivos alcançados e as mudanças necessárias diante do novo. Como cristãos, testemunhas de Jesus Cristo e como seus discípulos, precisamos também nos dirigir a um lugar à parte e avaliarmos se as ações de nossa vida cristã correspondem à que Cristo nos confiou. Avaliar a vida e a missão é sempre uma oportunidade para recomeçá-la com mais força e entusiasmo ainda, a exemplo de Jesus e seus discípulos.

Deus abençoe a todos e bom domingo!

 

Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim