Caminhando para a Páscoa

Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta

 Na Quarta-feira de Cinzas, ao recebermos a imposição das cinzas, foi-nos recordado nossa fragilidade e a necessidade permanente de conversão. As palavras que ouvimos, “convertei-vos e crede no evangelho”, foi um convite a realizar um caminho de preparação para a Páscoa. Já fixamos nas portas de nossas casas uma cruz, testemunhando que formamos uma família cristã, fiel a Deus. É a cruz do Crucificado-Ressuscitado, conhecida como “cruz de São Damião”, em que as feições de Cristo indicam sua humanidade que venceu a morte. O sinal da cruz nos acompanhará nestes quarenta dias, pois é n´Ele que o cristão deve fixar seu olhar e aprender a segui-lo, pois “se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mc 8,34).

Além de caminhar com os olhos fixos no Crucificado-Ressuscitado, o caminho quaresmal nos convida a escutá-lo. É o Pai que, na montanha da Transfiguração diz: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o” (Mt17,5). Somente será possível a renovação e aprofundamento do nosso batismo se estivermos dispostos a escutar atentamente sua Palavra. Sublinho aqui a importância dos grupos de reflexão realizar os encontros preparados pelo nosso Regional Sul3, da CNBB, para todas as dioceses do Rio Grande do Sul. Os textos bíblicos propostos abordam a dimensão batismal e penitencial, próprias da Quaresma. Toda família é convidada a participar, levando a sua Bíblia Sagrada e o livrinho dos encontros. Reservemos, em meio a tantos compromissos, tempo para cultivar nossa fé e preparar a Páscoa, nos grupos e na comunidade.

Ao contemplar o Crucificado-Ressuscitado, e na meditação de sua Palavra, somos levados a estender nosso olhar para a realidade na qual estamos inseridos e a sermos misericordiosos. A conversão sempre leva a viver a caridade e ter compaixão dos sofredores. O Concílio Vaticano II nos diz que “a penitência quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social” (SC 110). “Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza conosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil.” (Francisco, Mensagem quaresmal 2017). Neste contexto, somos desafiados a vivermos a Campanha da Fraternidade, que neste ano, mais uma vez, nos convida a “cultivar e guardar a criação” (cf. Gn 2,15). A conversão deve ser integral e, por isso, incluir a “conversão ecológica”, como nos ensina o Papa Francisco. Não podemos nos omitir das preocupações com o meio ambiente. A Bíblia nos ensina que somos guardiães da obra de Deus. Isto não é opcional ou secundário na vida cristã. Aproveitemos os espaços de formação que nos são oferecidos para aprofundarmos o tema proposto, sobretudo na catequese, cursos, encontros pastorais, palestras, ensino religioso, dentre outros.

No mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, manifesta-se o coração misericordioso de Deus. Ele é fonte de reconciliação, perdão e paz. A conversão, que se expressa em gestos de solidariedade fraterna, também acolhe com gratidão e alegria o perdão que nos é oferecido pelo sacramento da reconciliação. A caminhada quaresmal, que nos aponta a necessidade da mudança de vida, se completa com a reconciliação pela celebração penitencial e confissão sacramental. Enfim, a Quaresma é este “tempo favorável” para a redescoberta e aprofundamento do discipulado de Jesus Cristo.

 

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