Campanha aborda o papel dos macacos no ciclo da febre amarela silvestre

A febre amarela continua avançando pelo Brasil e uma campanha promovida pelo professor da Faculdade de Biociências da PUCRS Júlio César Bicca-Marques e colegas de outras instituições gaúchas vem informando a população sobre o papel de sentinela da circulação do vírus da doença desempenhado pelos macacos, papel esse reconhecido e valorizado pelo Ministério da Saúde. “Esse esclarecimento é necessário para evitar a agressão aos macacos”, ressalta o professor.

Segundo Bicca-Marques, além de ilegal, agredir macacos é um erro grave contra a saúde pública. “A morte dos macacos por febre amarela é o único alerta que temos da chegada do vírus em determinada região antes de começarmos a detectar pessoas não-vacinadas doentes”, observa. A campanha, lançada originalmente em 2009, visa esclarecer que os macacos não são reservatórios e nem transmissores do vírus, ou seja, os animais não são responsáveis pela chegada do vírus e não difundem a doença de um local para outro. “Portanto, ficaremos ‘cegos’ para detectar a chegada da doença em uma região se os macacos desaparecerem das matas. Por isso, os macacos são nossos principais aliados na luta contra a doença”, enfatiza.

Foto: Júlio César Bicca-Marques

A febre amarela é uma doença infecciosa de origem africana causada por um vírus que é transmitido por mosquitos. Existem dois ciclos de febre amarela: o urbano e o silvestre. No ciclo urbano o vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue, zika e chikungunya. A febre amarela urbana foi erradicada do Brasil em 1942, mas a intensa infestação dos municípios brasileiros com o Aedes aegypti torna real a ameaça de sua reurbanização no país. A possibilidade de transmissão transovariana do vírus de mãe para filha, a qual já nasce com o vírus sem ter picado uma pessoa ou animal infectado, aumenta esse risco. No ciclo silvestre, o vírus é transmitido por mosquitos silvestres dos gêneros Sabethes e Haemagogus.

O professor da PUCRS explica que a maioria das pessoas que são infectadas pelo vírus da febre amarela não apresenta sintomas ou desenvolve uma forma leve da doença de forma que sequer sabem que a tiveram. Há uma minoria, porém, que desenvolve a forma maligna, que possui alta taxa de letalidade, levando à morte cerca de 50% das pessoas. “É importante alertar a população de que o vírus se multiplica no corpo de todas as pessoas infectadas que não tiverem sido vacinadas contra a doença. Pessoas vacinadas estão protegidas da febre amarela por, pelo menos, 10 anos”, esclarece Bicca-Marques.

Devido à origem africana da febre amarela, os macacos das Américas são mais sensíveis à doença do que as pessoas. Alguns dos animais morrem em grande número poucos dias após a infecção, alertando as autoridades de saúde sobre a necessidade de campanhas de vacinação das pessoas na região. Os macacos que sobrevivem desenvolvem imunidade e o vírus desaparece da circulação sanguínea. “Portanto, os macacos são as principais vítimas da doença por serem mais sensíveis aos efeitos da infecção viral e não terem acesso à vacina”, destaca o professor.

 Para o idealizador da campanha, a descrição do ciclo silvestre dos livros didáticos e divulgada em muitas reportagens, na qual o homem aparece como hospedeiro acidental, é insatisfatória para explicar o que está ocorrendo no atual surto da doença no Sudeste do país e que já causou a morte de mais de 209 pessoas não-vacinadas e de milhares de macacos de várias espécies. “Essa descrição omite uma peça-chave para entender o desenvolvimento do surto da doença em curso: como o vírus está sendo difundido entre fragmentos de floresta isolados por vastas áreas dominadas por atividades humanas? Um olhar científico para o cenário de fragmentação da Mata Atlântica e o extenso conhecimento que dispomos sobre o comportamento e a ecologia de nossos macacos permite afirmar que é impossível que os macacos sejam responsáveis pela difusão da doença”, enfatiza. E complementa: “Os macacos vivem em áreas restritas de suas matas e raramente usam o solo, evitando áreas abertas (sem mata) para se deslocar de um local para outro. Por outro lado, a possibilidade de pessoas assintomáticas ou com a forma leve da doença serem responsáveis pelo deslocamento do vírus de uma área para outra é real!”.

–> Mais informações estão disponíveis no Facebook da campanha e no canal “Celebridades contra a febre amarela” no YouTube.

Fonte: Site Arquidiocese de Porto Alegre

Deixe um comentário