Carta da Assembleia da Pastoral Carcerária: “O sonho de Deus: um mundo sem cárceres!”

assembleia-nacionalAo final da assembleia nacional da Pastoral Carcerária, os coordenadores e coordenadoras dos estados e a coordenação nacional escreveram uma carta reafirmando o compromisso da Pastoral: “O Sonho de Deus: um mundo sem cárceres!”.

Esse compromisso firmado reforça o tema da própria assembleia desse ano, que teve como lema: “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres!”. A assembleia aconteceu em Brasília de 25 a 27 de novembro e reuniu cerca de 30 pessoas, coordenadores e coordenadoras da Pastoral Carcerária em todo o Brasil.

 

Carta da Assembleia de 2016 da Pastoral Carcerária

O Sonho de Deus: um mundo sem cárceres!

“Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres.” (Gálatas 5,1)

Nós, representantes das coordenações estaduais e da coordenação nacional da Pastoral Carcerária do Brasil, reunidas e reunidos em assembleia nacional em Brasília entre os dias 25 e 27 de novembro de 2016, reafirmamos o nosso objetivo pastoral, em total sintonia com o Evangelho, que é o permanente trabalho em busca da promoção da dignidade humana e de um mundo sem cárceres.

Em comunhão com o Papa Francisco, preconizamos uma “Igreja em saída” e permanentemente junto às pessoas pobres e marginalizadas. Irmanados com as demais pastorais sociais e pastorais da juventude, nos comprometemos com a transformação das estruturas sociais a partir das necessidades das/os pobres e de todas/os que vivem e sobrevivem nas periferias sociais e existenciais. Nossa caminhada, pela defesa da vida de todas as pessoas pobres, se orienta pelo imperativo de cuidar de toda a criação, a nossa “Casa Comum”.

Frente ao encarceramento massivo e às torturas e violações da dignidade humana inerentes às prisões e a todo o sistema penal, já denunciadas há quase duas décadas quando da Campanha da Fraternidade de 1997, “Fraternidade e os Encarcerados”, ocorrida poucos anos após o maior massacre da história do sistema prisional brasileiro, conhecido como Massacre do Carandiru, em 2 de outubro de 1992, nos posicionamos de forma contundente pelo necessário desencarceramento e desmilitarização das polícias, da política e da vida.

Ao fazermos memória da Campanha da Fraternidade/97, com uma população carcerária quatro vezes maior, e oito vezes mais mulheres aprisionadas, o Brasil não tem como esconder quase setecentas mil pessoas presas, das quais a quase metade é de presos provisórios, revelando a insustentável crueldade deste sistema.

À luz da espiritualidade de Lucas 4, 16-21.29, onde o Jovem Nazareno, também sentenciado, preso, torturado e assassinado, apresenta seu programa de vida pela libertação das/os oprimidas/os e presas/os, a Pastoral Carcerária, como Pastoral Social da Igreja comprometida com um mundo livre de prisões, reafirma sua identidade de ser uma pastoral em saída; de que a unidade prevalece sobre o conflito, não evitando-o, mas enfrentando-o, eis que gerador das necessárias transformações estruturais; da importância de nossa permanente articulação com os movimentos sociais; da preponderância da realidade sobre a ideia; e comprometidos com a Pastoral de Conjunto.

De forma profética, na comemoração dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora, seguimos guiados pela Mãe Aparecida, nossa mãe negra libertadora das opressões e correntes, revelada no Magnificat como mãe das/os pobres, renovamos nosso compromisso com o sonho de Deus, um mundo sem cárceres.

Brasília, 27 de novembro de 2016

Pastoral Carcerária

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