Chamados à alegria e à felicidade

Na 2ª Leitura deste Domingo (1ª Tessalonicenses 5,16-24) recebemos o convite efetuado pelo Apóstolo São Paulo de que devemos estar sempre alegres. Este Domingo do Advento é chamado de “Domingo Gaudete”, exatamente por causa do convite à alegria que nós recebemos, na Santa Liturgia. As recomendações do Apóstolo são as de que devemos viver sempre alegres e de que devemos orar sempre.

Para viver sempre alegres, devemos aprender a buscar a alegria onde ela realmente esteja. Onde encontrar a verdadeira alegria? No dinheiro? No conforto material? No consumo desenfreado dos bens de consumo? Nos prazeres da vida? Nada disso pode nos proporcionar autêntica alegria. Que garantia tem alguém de ser feliz, colocando a segurança de sua vida sobre realidades efêmeras, passageiras, incertas?

A alegria cristã não consiste em algo passageiro, mas em uma realidade consistente e permanente. Ela não provém de ter ou não ter coisas…, mas fundamenta-se em um encontro com o Senhor que vem. Na verdade, Ele é a nossa verdadeira alegria. E a alegria que o encontro com o Senhor produz um estado permanente de quem confia que a vida cristã é uma caminhada ao encontro do Senhor que vem. Ela é um dos sinais da presença do Espírito de Deus no coração de uma pessoa.

São Paulo também recomenda: «orai sem cessar». A riqueza interior, os valores, a espiritualidade, que nascem da oração, promovem a abertura do coração aos impulsos do Espírito que enriquece a comunidade com os seus dons. Rico ou pobre, doente ou de boa saúde, o cristão é feliz. Quem descobre a alegria sente a necessidade de a partilhar com os outros. Só assim é que a alegria é genuína! E quanto mais se partilha, mais se possui. A fonte fundamental da alegria é o próprio Deus e a sua Palavra, mesmo quando a vida não corre como gostaríamos. Por isso é que o cristão sabendo onde está o motivo da sua fé e da sua esperança não se pode deixar abater pelas dificuldades e contrariedades da vida, se quer alcançar a felicidade, que, como dom de Deus, se vai construindo progressivamente. Assim o anuncia o profeta na 1ª Leitura (Isaías 61,1-2.10-11). Ele faz uma declaração de alegria pela “boa notícia” de salvação, prometida por Deus. Dirigindo-se aos israelitas regressados do exílio na Babilônia, exclama: “Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus”.

Os retornados do exílio estão desanimados e sem esperança, pela frieza e hostilidade com que foram recebidos pelos habitantes de Jerusalém. O povo espera dias melhores para breve. E o Profeta anuncia ao povo oprimido a “boa notícia” da plena recuperação da paz e da justiça e um ano de graça para restaurar a harmonia. O povo reage agradecido numa atitude de louvor e alegria. A descoberta do amor e da presença libertadora de Deus sempre conduz ao louvor, à adoração, à alegria.

Hoje somos convidados a ter a mesma confiança e a manifestar a mesma esperança do profeta, para alcançarmos o caminho que, através da Palavra de Deus, nos poderá guiar para a luz da felicidade, como nos anuncia João Batista no Evangelho (João 1,6-8.19-28). Ele é apresentado como aquele que deve dar testemunho da luz. Atento à Palavra de Deus e aos sinais dos tempos, anuncia-se como uma “voz” no deserto que prepara o caminho para o Senhor. As suas palavras convertem uns e perturbam outros. Curiosos, alguns perguntam por que batiza, se não é Cristo, nem Elias, nem o profeta. João responde, insistindo na sua qualidade de precursor, e anunciando claramente que o Messias já veio, já se encontra no meio do seu povo, sem que este se aperceba. É que, para descobrir Jesus, conhecer a Sua presença, aceitá-lo, importa primeiro converter-se. À conversão dos seus concidadãos se dirigia a pregação de João Batista. E hoje, à nossa também. Não deixemos de escutar sua voz e de ver seu testemunho.

Dom Antônio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen