Chamados a ser santos

 

Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, nos Céus, nos encheu de toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que, nele, nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos, na caridade, santos e irrepreensíveis diante dele”, assim nos diz o Apóstolo São Paulo, na 2a Leitura de hoje (Efésios 1,3-14).

Acreditar em Jesus Cristo vai além de simplesmente aceitar com a razão seus ensinamentos: consiste em aderir à sua pessoa, compartilhando sua vida e destino, participando na sua obediência amorosa à vontade do Pai. Pela graça do Espírito Santo, unimo-nos a Jesus e nos tornamos conformes a Ele, buscando segui-lo, “para termos nele a vida eterna”.

Como discípulos de Cristo, somos convidados a assumir a sua atitude de obediência filial ao Pai e aos seus desígnios de salvação, que o levaram à Cruz e à Ressurreição. Cristo é a salvação e a esperança para cada homem. Estamos chamados a anunciá-lo com nossa existência diária; devemos ser “sal” e “luz” para os homens e mulheres de hoje, refletindo a luz de Cristo, com nossa vida exemplar, sendo “fermento” de esperança para a humanidade. É o desejo de Deus que sejamos luz e conforto para cada pessoa que encontrarmos no nosso caminho.

É impossível amar como Cristo amou, se Ele mesmo não ama em nós; é impossível seguir Cristo Jesus, se Ele mesmo não vier viver dentro de nós: “Foi nele que abraçamos a fé e assim recebemos a marca do Espírito Santo prometido” (Efésios 1,13).

Ao revisar a história dos Santos e entender que os Processos de Canonização investigam a heroicidade das virtudes, podemos pensar que a santidade não é para nós, mas apenas para uns poucos privilegiados. No entanto, as virtudes heroicas não significam que os santos tiveram atitudes extraordinárias, mas que Deus realizou maravilhas neles, pois se colocaram totalmente disponíveis e abertos à ação do Espírito Santo, que é quem nos santifica, e não as nossas virtudes.

Ser santo não é ser superior aos outros. Ser santo é ser amigo de Deus, permitindo que Deus atue em nós e através de nós, vendo nele um Amigo, um Pai. Isso é oração verdadeira. A santidade está na luta constante, em reconhecer nossos defeitos e tentar corrigi-los. O santo não é aquele que nunca cai, mas aquele que se levanta sempre com humildade e santa teimosia. Para isso contamos com a Misericórdia de Deus e com o Sacramento da Reconciliação.

Ser santo é procurar ser fiel aos pequenos deveres diários e carregar com amor a cruz de cada dia. Este é o convite evangélico à penitência e ao arrependimento que somos chamados a anunciar ao mundo, como nos diz o Evangelho: “Os Apóstolos partiram e pregaram que era preciso cada um arrepender-se” (Marcos 6,7-13). Assim, somos chamados a viver a santidade no cotidiano, abraçando a graça divina que nos transforma e nos capacita a sermos luz no mundo.

Jamais deixemos de anunciar, com nossa vida e com nossa palavra, o convite de Deus à conversão, que escutamos na 1a Leitura (Amós 7,12-15): “O Senhor chamou-me […] e o Senhor me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo’.”.

 

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen