Chamados e Enviados em missão!
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. A Liturgia da Palavra deste domingo, em continuidade com a reflexão de domingo passado, nos faz ver que, pelo batismo, todos nós somos chamados e enviados em missão. Nem sempre se trata de uma missão fácil. O Evangelho de Lucas diz que, ao iniciar seu ministério em Nazaré, Jesus foi expulso da cidade. Diante de suas palavras, “todos na sinagoga se enfureceram e, levantando-se, expulsaram-no para fora da cidade e o conduziram até o cimo da colina sobre a qual a cidade estava construída, com a intenção de precipitá-lo de lá” (Lc 4,28-29).
Caros irmãos e irmãs. Assim ocorrera muito tempo antes, com o profeta Amós, do qual temos a primeira leitura deste domingo (Am 7,12-15). O profeta Amós atuou em Israel no ano 760 a.C. Era um período em que Israel prosperava economicamente às custas da exploração dos trabalhadores pobres do campo. Por isso, Amós, fez duras denúncias às elites opressoras: “Vendem o justo por dinheiro e o indigente por um par de sandálias; eles esmagam sobre o pó da terra a cabeça dos fracos e entortam o direito dos pobres” (Am 2,6-7). Diz mais: “reuni-vos nas montanhas da Samaria e vede as numerosas desordens em seu seio, as violências em seu meio! Não sabem agir com retidão aqueles que amontoam opressão e roubos em seus palácios” (Am 3,9-10). Por isso, quando Amós foi ao Santuário de Betel, foi expulso de lá. Assim que ele chegou e começou a profetizar, disseram ao rei: “A terra não pode mais suportar as suas palavras”! (Am 7,10). Por isso, expulsaram Amós, dizendo-lhe: “Vidente, foge para a terra de Judá, come lá o teu pão e profetiza lá. Em Betel, não podes mais profetizar, porque é um santuário do rei” (Am 7,12-13). Amós foi um profeta que se colocou na defesa dos fracos e empobrecidos e lutou pelos seus direitos.
O Evangelho deste domingo é o texto de Mc 6,7-13. Depois de ter chamado os discípulos e de ter constituído o grupo dos doze para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar (Mc 3,13-19), Jesus os envia agora oficialmente em missão, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. Trata-se da mesma missão de Jesus: destruir os mecanismos que geram morte, dependência e opressão. Para bem exercer a missão, fez-lhes diversas recomendações. A primeira é que eles deviam ficar unidos no mesmo projeto de libertação a eles confiado: por isso, enviou-os dois a dois.
Prezados irmãos e irmãs. Ser cristão é estar a caminho, assumindo algumas condições básicas. Elas não são o conteúdo da missão, mas necessidades para bem desempenhá-la. Eles deviam estar preparados para a longa e difícil atividade missionária: deviam ter sandálias nos pés e cajado na mão. Trata-se de formas de segurança para a missão. Depois deviam deixar de lado tudo o que fosse supérfluo e poderia atrapalhar a missão: nem pão (sobriedade de vida), nem sacola, nem dinheiro, nem duas túnicas (nada do que poderia ser ostentação de riqueza). Deviam ser simples e se acomodar na hospedagem oferecida, permanecendo lá o tempo necessário para a missão. Para bem desempenhar sua missão, os discípulos deviam cuidar de seu estilo de vida. Caso contrário, poderiam fazer muitas coisas, mas não introduzir no mundo o espírito de Jesus.
Jesus pensa num mundo mais sadio, liberto das forças malignas que escravizam e desumanizam o ser humano. Seus discípulos introduzirão entre as pessoas sua força curadora, renovadora. Eles abrirão caminho na sociedade não utilizando um poder dominador, mas humanizando a vida, aliviando o sofrimento e fazendo crescer a liberdade e a fraternidade. Diante disso, eles “acolheram o chamado de Jesus e partiram em missão. Pregaram em vista da conversão, expulsaram muitos demônios e curaram muitos doentes, ungindo-os com óleo” (cf. Mc 6,12). Trata-se da mesma missão de Jesus, acontecendo agora na missão de seus discípulos. Significa que, como Jesus, todos têm a comum missão de libertar as pessoas de tudo o que as oprime e marginaliza.
Caríssimos! Diz o Documento de Aparecida que “conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp 29). Sintamo-nos todos, chamados e enviados a realizar a mesma missão de Jesus e seus discípulos, no espírito profético de Amós que propõe vida e esperança para a humanidade.
Deus abençoe a todos e bom domingo!
Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim