Coerência entre fé e vida

Quando o pecador se afasta do mal e pratica o direito e a justiça, ele se salvar, como nos lembra a 1a Leitura  de hoje (Ezequiel 18,25-28). A mensagem é clara: nosso caminho cotidiano de fé requer compromisso e ação. Devemos viver com a preocupação constante de agradar ao Senhor, e quando falharmos, devemos ter a humildade de nos arrepender e buscar o perdão no Sacramento da Penitência.

É importante compreender que a santidade não é algo pré-fabricado ou concedido automaticamente. Deus nos criou com o livre arbítrio e nos chama a colaborar com Ele em nossa própria salvação. Essa colaboração é nossa responsabilidade.

Jesus reforça esse ensinamento no Evangelho (Mateus 21,28-32). Não basta apenas sermos descendentes de Abraão ou membros do povo eleito. É fundamental obedecer ao Pai Celestial que nos chama para trabalhar em sua vinha. Essa perspectiva nos orienta na avaliação de questões cruciais, como a misericórdia e a justiça divinas, a realidade do Céu e do inferno, a redenção de Cristo e nossa aceitação dela.

Ser batizado na infância é uma bênção, e a Igreja o incentiva. No entanto, é essencial que continuemos a crescer espiritualmente à medida que crescemos em idade. Não devemos permanecer espiritualmente anões.

São Paulo, na 2a Leitura (Filipenses 2,1-11), nos oferece um programa de vida para produzir frutos de salvação na semana que se inicia e para toda a vida. Ele nos exorta a agir sem rivalidade ou orgulho, mas a permanecer unidos em amor e bons propósitos. Deus deseja que compreendamos profundamente essas palavras e que extirpemos qualquer inveja, soberba ou desejo de destacar-se de nossos corações. A fé sem obras é vazia; as obras são a expressão tangível de nossa fé.

Jesus ensina que para fazer parte de seu Reino aqui na Terra, é necessário crer nele e amá-lo. Isso significa acreditar em Sua Revelação e seguir os seus Mandamentos. É a exigência da coerência em nossa fé.

A Parábola dos dois filhos, mencionada no Evangelho, nos desafia a sermos sinceros e fiéis em nossos compromissos. Prometer é fácil, mas manter essas promessas quando confrontados com a realidade e o sacrifício é outra história. Jesus nos lembra da importância da coerência, vivida na realidade do dia a dia.

Essas palavras de Jesus não se aplicam apenas aos Sumos Sacerdotes e anciãos de Israel, mas também a cada um de nós, em nossas vidas individuais, familiares e sociais. Quantas vezes prometemos e não cumprimos. Pior ainda, quantas vezes, queremos nos fazer acreditar de que, por nós mesmos, não seríamos capazes de fazer o que criticamos nos outros, como erros e falhas. É uma atitude de soberba julgarmos que somos melhores do que os demais, de que não faríamos o que os outros fazem. A coerência é um desafio constante. Jamais podemos descuidar de nosso compromisso com o Senhor.

Hoje, Jesus nos fala por meio de sua Palavra, convidando-nos à coerência de vida e, na Comunhão do seu Corpo e Sangue, nos fortalece para sermos capazes de realizar o que Ele nos pede. Com Sua ajuda, seremos capazes de dar uma resposta livre e responsável. Lembremo-nos de que as obras são demonstrações concretas de nosso amor por Ele.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen