“Coerência no falar e no agir”!

 

Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Este domingo é o 8º Domingo do Tempo Comum, último domingo antes do início da Quaresma. Esse primeiro conjunto de celebrações nos colocou à escuta da Palavra e do ministério de Jesus como discípulos que se preparam para a missão.

Prezados irmãos e irmãs. A Liturgia da Palavra deste domingo convida a refletir sobre a autenticidade de nossa palavra. Em meio às travessuras de criança, nossos pais nos pediam que fôssemos sinceros, verdadeiros. Sempre nos ensinaram que “dizer a verdade é muito importante”. O livro do Eclesiástico diz que a palavra revela as intenções que estão no íntimo de cada pessoa: “A palavra mostra o coração do homem” (Eclo 27,7). Ao falar, a pessoa revela o seu interior e as intenções mais profundas.

O Evangelho deste domingo (Lc 6,39-45) é parte do “sermão da planície”, que Jesus transmitiu aos discípulos (Lc 6,20), ao descer da montanha (Lc 6,17). Em seu ensinamento, Jesus lembrou-lhes algo essencial: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Em Mateus, Jesus fez o “sermão da montanha”. Mateus apresentou Jesus como o “novo Moisés”, portador da justiça do Reino. Em Lucas, Jesus apresenta Deus Pai como modelo de misericórdia a ser vivida entre as pessoas, verdadeiro caminho para construir relações saudáveis.

A partir do princípio da misericórdia, preocupado com a comunidade dos discípulos, no Evangelho de hoje, Jesus apresenta-lhes diversas recomendações. Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? (Lc 6,39). Em Mateus, os cegos são os fariseus. Aqui, em Lucas, os cegos são os próprios discípulos e aqueles que pretendem julgar os outros, colocando-se no lugar de Deus. Cego é aquele que não quer viver a verdade de Deus revelada por Jesus. Sem a verdade não é possível uma convivência justa e nem viver com dignidade. Vivendo na falsidade e na mentira nos tornamos cegos guiando outros cegos. Jesus é a verdade de Deus que nos conduz à vida plena. “Vivei na verdade e a verdade vos libertará” (cf. Jo 8,32).

Jesus continuou dizendo: Um discípulo não é maior do que o mestre; todo o discípulo bem formado será como o mestre (Lc 6,40). Jesus apresenta-se como o Mestre por excelência, pois ensina com sua prática. Sua palavra é coerente com sua vida. Em seu ensinamento, Jesus quer que seus discípulos guiem a vida deles conforme a proposta do Reino.

Depois Jesus denunciou a hipocrisia daqueles que não são coerentes consigo mesmos: “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão! (Lc 6,41-42). A correção fraterna deve ser fruto da misericórdia. Na fé, somos responsáveis uns pelos outros. Jesus chama a atenção para a necessidade da honestidade de vida e para a ajuda fraterna. Para Ele, a coerência é um princípio fundamental em nossas relações.

Caríssimos irmãos e irmãs. Jesus conclui dizendo: “Toda a árvore é reconhecida pelos seus frutos…A boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6,43-45). Para Jesus, a prática revela quem são as pessoas. O ser humano autêntico se constrói a partir de dentro. É a consciência que orienta e dirige as pessoas. O decisivo é o “coração”, lugar secreto e íntimo de nossa liberdade, onde não podemos enganar a nós mesmos. É no “coração” de nossa consciência que se decide a vida.

Irmãos e irmãs. Já vislumbrando o início da Quaresma nesta próxima quarta-feira, abramos nosso coração para os ensinamentos de Jesus onde o mais importante é a pureza de coração. Como cristãos somos chamados à viver coerentemente nossa vida, ou seja, nosso falar e nosso agir devem estar em sintonia, na verdade de nós mesmos e na verdade revelada por Jesus, favorecendo relações sinceras e fraternas para a construção de um mundo cada vez mais humano.

Deus abençoe a todos e bom domingo.

 

Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim