Com as reformas “vamos voltar ao capitalismo selvagem”, afirma dom Paz
Incentivando a mobilização dos leigos com o apoio da Igreja, ressaltou que será continuada a luta contra o trabalho semiescravo e escravo que, lamentavelmente, com a globalização está crescendo. “Que possamos descontruir essa agenda neoliberal que vem dos anos 60 e 70 com o Consenso de Washington, que o governo atual está levando à risca”, afirmou.
Resgate histórico
No início da sua fala lembrou que o dia 1° de maio é uma data internacional, que teve seu marco há 131 anos na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, onde houve a movimentação de 300 mil trabalhadores que reivindicavam por uma jornada de 8 horas diante de uma de 14 e até 18 horas de trabalho. “Alguém plantou uma bomba, prenderam nove trabalhadores e quatro foram enforcados depois de um juízo sumário. Esta data é um dia de memória, de luta, de reflexão e reivindicação pelos diretos fundamentais dessa classe tão sofrida”, recordou o bispo.
A Igreja que sempre estava ao lado dos trabalhadores consagrou esse dia a São José Operário. “Pio XII considerou colocá-lo como modelo para mostrar que São José é o pai adotivo de Jesus, o divino mestre, divino trabalhador, que assumiu pela sua encarnação a realidade do trabalho e trabalhou 30 anos. Era conhecido como o filho do carpinteiro”, explicou.
Em sua mensagem, frisou que “a Igreja neste dia celebra a dignidade do trabalho, porque o trabalho é fundamental para o crescimento e a realização da pessoa humana. Constitui numa dimensão fundamental no qual a pessoa se torna co-criadora com Deus. Pelo trabalho a pessoa participa da nobreza da criação, contribui para a edificação de uma sociedade justa e mais fraterna”.
Dom Paz recordou a defesa dos trabalhadores diante de um sistema que insiste fazer do trabalhador uma mercadoria: “O trabalho não é mercadoria, o trabalhador não pode ser coisificado. Ele é sujeito e tem direito a uma justa renumeração que não se mede apenas pelo custo da força do seu trabalho, mas também pelo direito de uma qualidade de vida digna para ele e para toda a sua família”.
Trabalhadores brasileiros e os direitos
Ao longo da história do Brasil, os trabalhadores sempre estiveram na vanguarda na construção de uma sociedade cada vez mais democrática, lembrou dom Roberto Ferreria Paz. Contribuíram com seus ideais republicanos de liberdade. “Mas este dia no Brasil, 1° de maio de 2017, é celebrado num contexto de recuo de direitos, de retirada de direitos. O Estado vai esquecendo sua missão, sua tarefa de ser o mediador entre os conflitos entre o capital e o trabalho e protetor daqueles trabalhadores que não podem continuar e estão encostados pela Previdência”, ponderou.
Para dom Paz, nunca se assistiu a tamanha retirada desses direitos pelo projeto de Lei 4302, a Lei das Terceirizações, criando e gerando trabalho intermitente. “A reforma Trabalhista pelo projeto de lei 6787/16, bem como a proposta da PEC 287 que, evidentemente, prejudica seriamente o trabalhador quase que eliminando o sistema previdenciário”, sublinhou.
Diante disso, os bispos dão uma palavra de esperança, de solidariedade e, na pessoa de dom Paz, estão “como sempre com a classe trabalhadora e não podia ser de outra forma com Jesus trabalhador”. Ainda, “diante da precarização e flexibilização das leis do trabalho nossa palavra é de encorajamento. Nossa palavra é sempre recordar aos trabalhadores a vocação, sua missão e estimular as mobilizações justas, pacificas, democráticas para gerar uma cultura do trabalho como está na Caritas in Veritatis n° 63: trabalho decente, trabalho justo e trabalho solidário”.
Perante o cenário conturbado de retirada dos direitos se faz necessário “responder a globalização do descarte, da indiferença e da exclusão com a globalização da solidariedade, da comunhão e da justiça no trabalho para todos os trabalhadores. Nossa benção, nossa oração e podem contar sempre com a Igreja Católica como companheira no caminho rumo a uma sociedade mais justa, mais fraterna rumo ao Reino definitivo”.
Ao ser perguntado sobre as ações concretas da Igreja em relação ao trabalho, dom Paz respondeu que, quando se fala em Igreja, se pensa enquanto Povo de Deus, com o protagonismo dos leigos: na Pastoral Operária, nos Movimentos de Trabalhadores Cristãos, na Pastoral de Fé e Cidadania e outras iniciativas. “Os leigos nesses espaços vão ampliando esse debate que faltou em todas essas reformas e projetos”, afirmou. Para concluir a resposta, dom Paz frisou que a palavra reforma sempre indica que algo ficará melhor, mas essas reformas do governo são para recuar direitos fundamentais e sugeriu ampliar o debate nas comunidades de fé pelo protagonismo dos leigos.