Como Viver nos Conflitos?

Conta-se que um velho Eremita refugiou-se nas montanhas para se dedicar à meditação e oração. Costumava ser visto muito ocupado. Um dia alguém lhe perguntou:

– “Mestre, como o Senhor pode ter tanto trabalho se mora sozinho?”

Ele respondeu: – “Eu tenho várias coisas a fazer: – treinar dois falcões; – treinar duas águias; – acalmar dois coelhos; – disciplinar uma cobra; –  motivar um burro e  domesticar um leão!”

O interlocutor observou:

– “Não vejo nenhum animal por aqui, onde eles estão?”

O Eremita respondeu:

– “Esses animais todos nós carregamos dentro nós. Os dois falcões se jogam em tudo o que lhes é apresentado, bom ou ruim. Preciso treiná-los para pegar só coisas boas, pois eles são meus OLHOS.

As duas águias, com suas garras, machucam e destroem, tenho que treiná-las para colocarem-se a serviço e ajudar sem causar danos: elas são minhas MÃOS.

Os coelhos querem ir por toda parte e evitam situações difíceis. Preciso ensiná-los a ter calma, mesmo que haja sofrimento, problemas ou qualquer coisa que eu não goste: eles são meus PÉS.

A coisa mais difícil é controlar a cobra. Ela está trancada numa gaiola forte, muito forte, mas está sempre pronta para atacar, morder e colocar seu veneno em quem estiver por perto, então eu tenho que discipliná-la: é a minha LÍNGUA.

Todo burro é teimoso, não quer cumprir seu dever, está sempre cansado e se recusa a carregar sua carga todos os dias: é o meu CORPO.

Finalmente, eu preciso domesticar o leão. Ele quer ser o rei, é altivo e sempre quer ser o primeiro. É vaidoso e orgulhoso. Julga ser sempre o melhor: é o meu EGO.

Como você pode ver, meu amigo, tenho muito trabalho a fazer!”

A moral desta parábola, de autor desconhecido, pode nos ajudar durante a quarentena da pandemia, bem como em outros momentos da vida.

Mesmo em situação de isolamento, podemos crescer tendo olhar de águia sobre os problemas e dificuldades, escolhendo o melhor para nossa saúde e dos outros. Colocamos nossos dons a serviço da família, dos relacionamentos, dos vizinhos e ajudando os mais necessitados. Aprendemos a viver o silêncio interior e exterior, escutando a voz de Deus, dentro de nós e nos sinais dos tempos, bem como partilhando nosso amor, caridade e solidariedade. Podemos orar mais e colocar nossas forças para servir, superar os conflitos e confiar. Estamos nos braços do Senhor de nossas vidas!

Dom Hélio Adelar Rubert – Arcebispo de Santa Maria