Comunidade Cristã e Misericórdia

Dom Remídio José Bohn – Bispo de Cachoeira do Sul

A missão da Igreja consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição.

Na primeira leitura (At 2,42-47) temos,na “fotografia” da comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade fraterna, preocupada em conhecer Jesus e a sua proposta de salvação, que se reúne para louvar o seu Senhor na oração e na Eucaristia, que vive na partilha, na doação e no serviço.

A experiência da fé em Cristo vivo e ressuscitado acontece na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e se irradia o amor de Jesus. Tomé, em sua primeira atitude, representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora da comunidade) e que não faz caso do testemunho da comunidade, nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter para si mesmo uma demonstração particular de Deus, dizendo:“quero ver”.

No entanto, “oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos, e Tomé estava com eles” (Jo 20,21-26), ou seja, no “dia do Senhor” volta a estar com a sua comunidade e pôde então fazer a experiência do encontro com Cristo vivo. É uma alusão clara ao Domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado.

Este domingo, proclamado pelo Papa S. João Paulo II, como o domingo da misericórdia, nos apresenta, na primeira parte do Evangelho,a aparição do Ressuscitado aos discípulos reunidos, soprando sobre eles e concedendo-lhes o Espírito Santo para serem instrumentos de sua misericórdia: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados…”

Dá-lhes o Espírito de Deus e a missão de tirar o pecado do mundo. O Espírito de Jesus Cristo é poder de perdão. É poder da Divina Misericórdia. Concede a possibilidade de iniciar de novo sempre de novo. O amor de Jesus Cristo é amor d’Aquele que faz de nós pessoas capazes de perdoar, d’Aquele que perdoa também a nós, nos aliviacontinuamente da nossa fraqueza e, assim, infunde em nós a consciência do dever interior de amar e de corresponder à sua confiança com a nossa fidelidade.

Santa Faustina, religiosa que realizava na Polônia um trabalho de assistência e proteção a mulheres vítimas de violência, expressava desta forma sua experiência: “Ajuda-me, Senhor, a fazer com que o meu coração seja misericordioso de modo que participe de todos os sofrimentos do próximo… instala em mim, ó meu Senhor, a tua misericórdia…”

Por isso, para sermos misericordiosos precisamos reconhecer a misericórdia de Deus para conosco. E, para reconhecermos a misericórdia de Deus, é preciso fazer a experiência do encontro pessoal com o Ressuscitado, presente entre nós…

 

 

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