Comunidade e solidariedade

A vida de fé se manifesta através da oração, da participação na comunidade, mas também nos gestos de solidariedade que nos permitem cuidar da vida, dom de Deus, em todas as realidades. Diante de Deus, cada um de nós é único, os dons e talentos de cada um não devem ser nem ignorados, nem confrontados para gerar competição, nem invejados, mas todos precisam ser reconhecidos e devemos fazê-los frutificar, apresentá-los e restitui-los no louvor ao Senhor.

Na comunidade, construída sobre os valores do Evangelho, redescobrimos o outro com seus dons e talentos a partir do olhar do coração, da fé no Senhor que nos une em família e nos convida a olharmos continuamente para a realidade que está ao nosso redor. Nela podemos aprofundar o nosso relacionamento com os outros e partilharmos os valores do Evangelho, que nos identificam como discípulos e discípulas do Senhor Jesus.

O testemunho de vida em comunidade tem uma dimensão que vai muito além do encontrar-se, ele tem a força de revelar e manifestar o Reino de Deus no meio de nós, porque revela e manifesta a reconciliação com Deus e entre nós. Desta forma, a vida cristã manifestada, vivida e celebrada em comunidade, é chamada a ser e se torna, segundo os tempos, memória viva do amor de Jesus pela humanidade e sinal transparente deste amor. “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vendo as vossas boas obras glorifiquem o vosso Pai, que esta no Céu”(Mt 5,16).

O nosso mundo tem necessidade do testemunho de comunidade, que rompa a barreira da indiferença, do individualismo e do egoísmo, e faça resplandecer o rosto do amor solidariedade, que faz crescer o sentido de fraternidade e fortalece os vínculos de pertença a uma comunidade.

As divisões e as fragmentações de todo tipo são uma realidade na qual vivemos. Uma comunidade sã e espiritualmente sólida é como uma pedra angular, sobre a qual Deus construirá a sua casa. Mas para isso é importante que cada pessoa esteja consciente da importância de sua participação na comunidade. O isolamento em relação à comunidade pode nos levar ao individualismo, que fragiliza não só o nosso sentido de pertença em relação a ela, mas também nos leva ao distanciamento da comunhão com os irmãos e irmãs que dela participam. Ao mesmo tempo, é importante ressaltar que as pessoas que fazem parte de uma comunidade devem estar abertas ao diálogo, tendo presente que a escuta, na verdade, pode fazer crescer a comunhão e dar vida nova à comunidade.

Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul e Presidente do Regional Sul 3 da CNBB