Corpus Christi
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo
Na próxima quinta-feira, a Igreja Católica celebra solenemente o “SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO CORPO E DO SANGUE DE CRISTO”, solenidade também conhecida com o nome latino Corpus Christi. A oração da coleta da missa do dia, que é feita antes da leitura dos textos bíblicos, reza assim: Senhor Jesus Cristo, neste admirável sacramento nos deixastes o memorial da vossa paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso Corpo e do vosso Sangue, que possamos colher continuamente os frutos da redenção. Vós, que sóis Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo”.
Esta breve oração nos introduz no universo belo, grandioso, transformador e misterioso do Santíssimo Sacramento. O Corpo e o Sangue do Senhor é um alimento abundante e nutritivo que, necessariamente, deve se transformar em amor e compromisso com o próximo.
Como cristãos somos peregrinos neste mundo. Necessitamos alimentar-nos cotidianamente. Jesus se ofereceu como alimento e bebida: “tomai e comei”; “tomai e bebei”. É um alimento muito peculiar que não pode ser guardado ou estocado. Precisa ser buscado e consumido diariamente, se assim não for, volta ao doador.
Como assim? O maná providenciado por Deus ao seu povo no êxodo nos faz entender o que foi dito. Vale a pena ler todo capítulo 16 do livro do Êxodo, do qual ressalto os versículos 16-24: “Eis o que o Senhor vos mandou: Recolhei a quantia que cada um de vós necessita para comer… Uns recolheram mais, outros menos. Mas depois, ao medirem as quantias, não sobrava a quem tinha recolhido mais, nem faltava a quem tinha recolhido menos…. Moisés lhes disse: ‘Ninguém guarde nada para amanhã’. Alguns, porém, desobedeceram a Moisés e guardaram o maná para o dia seguinte; mas ele bichou e apodreceu… Manhã por manhã, cada qual ajuntava o maná que ia comer.”
Cada vez que nos aproximamos do alimento eucarístico precisamos estar com fome, pois gastamos tudo o que recebemos anteriormente. Se fomos alimentados da misericórdia do Senhor, precisamos gastar em obras de misericórdia. Se fomos alimentados com palavras de justiça, gastemos o que recebemos sendo justos. Assim podemos enumerar todas as graças e bênçãos possíveis que o Senhor concede. O maná do deserto guardado para o dia seguinte, bichava e apodrecia; o alimento eucarístico que foi recebido e que não foi gasto, isto é, não se transformou em obra de amor ao próximo, o Senhor o vai pedir de volta.
Na hora das oferendas da celebração eucarística são levados ao altar pão e vinho. Na invocação do Espírito Santo se pede para que sejam santificados para se tornarem para nós o Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Temos aqui um ato de comunhão com Deus e de partilha e compromisso com os irmãos, sobretudo os mais pobres que necessitam tanto de pão como dos direitos fundamentais. A eucaristia se torna a fonte da moral e da ética cristã. O pão e o vinho, isto é, os frutos do trabalho humano oferecidos no altar do Senhor, retornam a quem os ofereceu. Deus alimenta o doador dos dons. O alimento volta transformado, pois agora é o corpo e sangue de Cristo. Consumido gera vida, comunhão, fraternidade e partilha.