Cremos na Educação
“O educador há de ser um edificador, um construtor da verdadeira humanidade. Há de proporcionar uma ajuda para a libertação do homem de todas as cadeias negativas interiores e exteriores nas quais se vê envolto e não poucas vezes escravizado”
(Ir. Carlos Plaza)
Em inúmeras oportunidades tenho dito que o grande desafio em nossa formação consiste em tornar-nos verdadeiramente humanos. Potencializar a humanidade que já existe em nós, mas que por tantos motivos teimamos em ocultar. Nessa estrada necessitamos de mediadores. Aliás, sem eles, o progresso humano seria impossível.
Desde que nascemos somos mediados pelo ambiente, pelos familiares, amigos, leituras e tudo mais. É impossível atravessar este mundo sem nos depararmos com alguém. Até mesmo os indiferentes fazem a diferença. Talvez por isso nos incomodem tanto. Quem não se sentiu indignado diante de um caso de apatia? Queremos atenção, ser vistos, ouvidos, tocados, amados. Somos gente! E a mediação se dá na palavra. O zoon logon antrophon tem em seu DNA a vocação para o diálogo, a conversa, a interação. Sem ela, a vida tornar-se um monólogo insosso e maçante.
Estudiosos da semântica buscam o que está para além do dito, do não dito, do que gostaríamos de dizer e do que efetivamente dizemos. Benveniste, ícone de primeira grandeza na área dos estudos do sentido, afirmou que “o homem está na língua”, isto é, a palavra é a epifania do ser. É através dela que manifestamos quem somos e o que nos move. E não há estágio maior no desenvolvimento humano do que o momento em que conseguimos dizer nossa “palavramundo”, ou seja, aquilo que nos encanta, que nos envolve e também o que nos agride, repulsa e não queremos compactuar.
Os professores que passaram por mim e pelos quais passei deixaram-me claro que a posse da palavra é um exercício permanente. Não se dá de uma vez por todas. Faz-se necessário conquistá-la a cada dia, porque a palavra é móvel, diacrônica, não morre na mesmice. Permitiram-me, da mesma forma, gerar em mim uma inquietação permanente em vistas de melhorar-me. O tempo vai passando e vou observando em mim o quanto burilei essa jóia rara, que é a vida. Quantas palavras não fazem mais parte do meu vocabulário e quantas ainda habitam em mim alcançando-me água pura, que saciam minha sede de educador. Há alguns dias em que penso: não vale a pena pois os alunos ‘não querem nada’, muitas famílias não estão nem aí, os governantes não consideram e não acreditam na educação. O torpor quer tomar conta de mim, mas aí o sorriso de uma criança, a memória de um velho professor, a mensagem de um ex-aluno dizendo-me que fiz a diferença em sua vida arrancam-me do coma em que me meti por mera displicência e dão-me novamente a energia para recomeçar.
Educar é edificar! Passa-se uma vida ajudando outras vidas a se levantarem, confirmando no final das contas que quem mais ganhou foram aqueles que serviram de pontes no trajeto da existência. Todos os dias precisamos recitar de novo o credo da educação que tem poucas evocações: crer na pessoa, crer na possibilidade de um mundo novo, crer no futuro. Foi isso que deixamos claro os participantes do XXI Encontro Nacional da Pastoral da Educação, em Goiás. Foram dias de trabalho intenso, convívio fraterno e unidade. Vi nos olhos dos que lá estavam aquele brilho que só quem ama o que faz é capaz de deixar entrever. Independentemente de vivermos momentos de grande turbulência política, econômica, ideológica temos um motivo comum e em torno do qual precisamos dialogar: a educação. Quem sabe não seja justamente ela, tantas vezes desprezada por quem não entendeu o seu valor, o tijolo que lance as bases para um homem diferente?! Para finalizar: um professor não muda o mundo, ele ajuda a construir pessoas e essas pessoas é que podem mudar o mundo. Conjuguemos pois, um verbo escasso: eu creio, tu crês…nós cremos…
Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade