Crer e pertencer

O último censo nos mostra que cresceu no Brasil o número dos sem religião, passando de 7,9% para 9,3% da população. Na verdade essa não é uma realidade somente nossa. Cresce no mundo hoje uma mentalidade do não pertencer, do não ter compromisso, de um individualismo e um egoísmo. Existe até um slogan em inglês: “we believe but we don’t belong”, ou seja, “nós cremos, mas não pertencemos”.

É muito comum encontrarmos, na internet, manifestações contrárias às igrejas e às religiões, mas não contrárias a Deus. Algumas pessoas, por exemplo, postam nas redes sociais expressões como: “Eu quero Deus; não quero religião, nem igreja, nem doutrina”. Pessoas rejeitam religiões, igrejas e doutrinas porque querem viver num vale tudo e fugir da co-responsabilidade.

Quando Jesus iniciou sua pregação, muitas pessoas se encantaram com Ele, pela forma como falava de Deus. Mas, diante da expectativa de que Ele tivesse vindo anunciar um Deus sem doutrina, cuja Palavra não nos proíba de nada, Jesus esclareceu: “Não pensem que vim para abolir a lei e os profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5, 17). Jesus não veio nos apresentar um Deus que nunca nos diga “Não; isso não pode, isso não deve!” Ele veio nos esclarecer o motivo pelo qual Deus às vezes nos diz: “Não; isso não pode, isso não deve!”

A Bíblia não existe para ser uma coleção de normas e proibições. Ela serve para nos ensinar a escolher a vida e não a morte, o caminho da salvação e não da condenação. Quem se afasta da Palavra sente Deus cada vez mais distante de si. Consequentemente, não experimenta a presença, o amor e a salvação de Deus em si. Quem se aproxima da Palavra, sente Deus cada vez mais próximo de si. Consequentemente, experimenta a presença, o amor e a salvação de Deus em si.

Um dos ensinamentos importantes da Bíblia é a respeito da nossa palavra.  Tendo presente a sua importância, sua força, a Bíblia nos convida a perceber como está a nossa palavra diante dos outros, se estamos zelando pela verdade: “Que o seu sim seja sim, e o seu não, não” (Mt 5, 37). Jesus nos ensina a sustentar aquilo que dizemos, a sermos coerentes, a vivermos de acordo com aquilo que falamos, isto é, que a nossa palavra seja digna de crédito.

Outra coisa muito importante é a forma como lidamos com nossos desejos. Jesus diz que, se preciso for, devemos arrancar nosso olho ou cortar nossa mão. Em outras palavras, precisamos aprender a dizer “não” a nós mesmos, convencidos de que é muito melhor perder uma ocasião de prazer do que estragar nossa vida, nosso relacionamento, nossa família, por causa daquele momento de prazer (cf. Mt 5, 29-30). Que essas indicações de Jesus nos ajudem a purificar a nossa liberdade de escolha de todo egoísmo de nossa parte e também da “tirania do prazer”, imposta pela sociedade em que vivemos.

 

Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé