Crismados, e agora?

Dom Adelar Baruffi – Bispo Diocesano de Cruz Alta

Em nossa Diocese, durante o Tempo Pascal, cinquenta dias após a Páscoa, são realizadas as celebrações da primeira Eucaristia e da Crisma dos que estão no caminho de iniciação à vida cristã. É sempre um momento muito festivo, esperado e preparado com esmero pelas comunidades. Porém, permanece uma pergunta: como estes jovens darão continuidade ao caminho de vida cristã ao qual foram iniciados e que culminou na celebração dos sacramentos? Toda caminhada realizada nos quatro anos de catequese visou conduzir para dentro do mistério amoroso de Deus, ser inserido na comunidade eclesial, para celebrar, professar e testemunhar a fé em Jesus Cristo, no Espírito Santo.A iniciação cristã procura formar discípulos de Jesus Cristo que vivam sua fé, renovem a comunidade paroquial e missionários que testemunhem sua fé na sociedade. Claro que este processo ainda está dando passos iniciais. Toda nossa catequese é bíblica e existencial, sem deixar de apesentar a doutrina. É essencialmente celebrativa, acompanhando e se inserindo gradativamente na caminhada da comunidade, que vive sua fé, a missionariedade e a caridade. Ainda temos um longo caminho a percorrer, visto que perdura na mentalidade de muitos pais e na própria comunidade o antigo modo de ver a crisma como o fim de um curso, quase que uma formatura.

Como todas as dimensões da nossa vida (humana, intelectual, profissional, social), também a vida cristã exige que se faça um caminho de amadurecimento. O crescimento humano deve ser acompanhado do amadurecimento da fé. Quando são crismados, normalmente têm 13 ou 14 anos. São adolescentes e jovens. Ainda não são adultos. Ficaria muito limitada a formação se não houvesse uma continuidade.  Com discípulo de Jesus Cristo, a pessoa é envolvida inteiramente, em todas as esferas e dimensões de sua vida. A catequese ajuda a compreender e vivenciar a fé em Jesus Cristo como cativante projeto de vida.Os três sacramentos da iniciação cristã fornecem a base para toda a vida. Para os batizados, a Crisma e a Eucaristia são consequência de uma fé assumida livremente, mas também, os mesmos sacramentos são lugar para alimentar constantemente este caminho. Pela Crisma, os batizados são chamados a viver mais intensamente a intimidade com Cristo, já que puderam crescer e amadurecer a própria fé professada no Batismo. A Crisma, pelos seus efeitos, enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos faz dizer “Abba, Pai” (Rm 8,15); une-nos mais solidamente a Cristo; aumenta em nós os dons do Espírito Santo.  A Eucaristia expressa a plenitude de todo este caminho, como sacramento do amor redentor de Cristo e da comunhão com Ele e com os irmãos.

A comunidade de fé é o lugar por excelência do cultivo e vivência do ser cristão. Por isso, como responsável pela formação de seus membros, deve ser espaço de acolhida e acompanhamento dos crismados. O processo de iniciação à vida cristã requer a acolhida, o testemunho, a responsabilidade da comunidade. Quem busca Jesus precisa viver uma forte e atraente experiência eclesial. A iniciação dos chamados ao discipulado se dá pela comunidade e na comunidade. Eles são chamados a continuar este processo de pertença e identificação com a sua comunidade. Não pode faltar numa paróquia e até nas comunidades maiores, um grupo de jovens, integrado na caminhada evangelizadora da Paróquia. A partir deste espaço, aqueles que são crismados continuam o caminho de formação iniciada e terão oportunidade de alimentar e aprofundar a fé diante dos desafios que se apresentam na vida do jovem: o discernimento vocacional e profissional, a presença e atuação na comunidade e sociedade, o diálogo fé e razão, especialmente quando estão no mundo universitário, e tantas outras demandas próprias deste belo momento da vida.Assim, como discípulos de Jesus Cristo, por toda a vida, serão missionários e promotores da vida que brota da fé que professam.

 

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