Cuidar da Mata Atlântica através da agrofloresta
Em entrevista com o professor Paulo Brack, do Departamento de Botânica da UFRGS, após sua palestra
no Seminário sobre a Campanha da Fraternidade 2017 (dia 27 de outubro de 2016), que traz como temática os biomas brasileiros, constatamos as fragilidades e potencialidades da Mata Atlântica.
O bioma Mata Atlântica cobre cerca de 40% do estado do Rio Grande do Sul e 70% da do país. Desses, há apenas 10% das formações naturais, pois 90% das florestas, campos e vários tipos de vegetações já desapareceram, frente a uma forma de vida questionável do ponto de vista da sustentabilidade econômica.
Para manter a Mata Atlântica gerando recursos rentável sem destruí-la a solução é a biodiversidade. Essa é uma forma de manter a floresta sem derrubar para colocar pastagens ou monocultura de grãos. A agrofloresta é uma forma sustentável que gera mais renda para a agricultura familiar.
A cultura trazida ao Brasil há 500 anos não entendeu a paisagem natural e a importância dos biomas desde o primeiro colonizador. “Com essa destruição vamos nos dando por conta de resgatarmos as culturas que se aproximam dessa sustentabilidade perdida. Estamos apreendendo na marra, a destruição é muito rápida. As monoculturas trazem alta carga de agrotóxico. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo”, afirmou .
“São mais de um bilhão e 300 mil toneladas de agrotóxicos usadas no Brasil. É uma carga imensa que está trazendo de modo imediatista renda para algumas empresas. Essas que mantem políticos submissos a elas e fazem leis para seu favorecimento. Precisamos romper com essa estrutura através da agricultura familiar, resgatando a biodiversidade”, denunciou.
Os agrotóxicos estão sendo reconhecidos pela população com um grande problema para a saúde. São milhares de pessoas com câncer. Crianças que nascem com leucemia. É uma calamidade pública e o Ministério da Agricultura incentiva o uso de agrotóxico. As empresas são pensam nas pessoas, mas em faturar com a venda desses produtos.
A possibilidade de usufruir das mais de 200 espécies de frutas nativas presentes no estado. Frutos estes que podem ser feitos sucos, sorvetes, geleias e outros produtos que podem ser aproveitados junto com o turismo rural. “Os turistas serão atraídos pelos produtos e vão visitar a floresta, a cascata e seguir uma trilha sem destruir a floresta. O turismo ligado a natureza: rural, ecológico e agricultura familiar”, assegurou.
Enquanto consumidores dá para buscar diversificar a alimentação e proteger a Mata Atlântica pela agrofloresta. Muitas plantas possuem poder nutritivo. “Um exemplo é a araucária que produz o ano inteiro e serve de alimento para o ser humano, aos pássaros, é uma beleza natural e sem uso de agrotóxico. No entanto, o pinhão é distribuído pelo intermediário que se aproveita daquele que extrai”, chamou a atenção.
A família que extrai o pinhão não ganha dinheiro e o produto chega nas prateleiras com preço alto. Se o agricultor vender na feira irá obter melhor resultado, mas para isso é necessária uma política de incentivo à produção e a comercialização direta. Não apenas vender o pinhão, mas também seus subprodutos, como, por exemplo, o pão e outros derivados. “A culinária é uma das tantas opções a partir das agroflorestas para combater a cultura imediatista vigente da monocultura e do lucro a curto prazo”, salientou.
Por Judinei Vanzeto – Jornalista