Cultura, lazer e ser igreja: como aliar a fé e a vivência em comunidade para tornar a arte acessível às comunidades
Uma ciranda abriu a miniplenária sobre os “Desafios de acesso e participação da cultura e lazer”, mediada pelos artistas e produtores culturais ligados ao Movimento dos Artistas de Rua de Londrina (MARL), Danilo Lagoeiro, Edna Aguiar, Josemar Lucas e João Poças, na Paróquia Imaculada Conceição, a Praça do Guapuruvu, durante o 14º Intereclesial das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), na cidade de Londrina. “Ocupar, resistir! A Arte é caso sério não vão nos oprimir”, cantaram e dançaram os participantes.
A partir da contextualização histórica das políticas públicas para a cultura no país e relatos de autogestão na produção cultural, os integrantes do MARL levantaram alguns desafios do cenário brasileiro: desmonte das políticas públicas; precarização do trabalho artístico; desigualdade no acesso e produção dos bens e serviços culturais; mobilidade urbana; falta de infraestrutura e manutenção dos serviços públicos; e a descentralização da produção e acesso dos bens e serviços culturais.
Para eles, a união e organização dos movimentos e da sociedade civil representam uma forma de possibilitar a mudança desse cenário:“a gente precisa se organizar, porque existe um desmonte das políticas públicas nesse momento histórico, então precisamos pensar em estratégias para intercambiar com outros movimentos – do campo, indígenas, LGBT – pra que a gente possa ter a possiblidade de existir com a nossa cultura e dar visibilidade pra ela também”, afirma Danilo Lagoeiro.
Um exemplo dessa união de movimentos apresentada é a “Feira do MST”, a qual não só atrela a programação cultural com a venda de produtos, como une comunidades diferentes fortalecendo-as,tornando-as visíveis e suas culturas acessíveis: “a comunidade indígena participa com o seu artesanato, a do campo, vendendo sua comida sem veneno, baseada na agroecologia e produção orgânica”, relata Lagoeiro.
Após a colocação dos produtores culturais e artistas do MARL, os participantes dividiram-se em grupos menores para compartilhar e pensar nos reflexos desses desafios em suas comunidades. Dentre outros pontos, destacaram a falta de acesso e conhecimento das culturas e artes populares pelo próprio povo, o qual tende a reconhecer como arte apenas aquelas que aparecem na televisão.
Valorizar as culturas regionais e da própria comunidade, além de propor que as manifestações culturais tomem iniciativa para buscar outros incentivos que não só o do Estado, foram alguns dos tópicos discutidos em alguns grupos.
Cristina Oliveira, vinda de Manaus para o 14º Intereclesial, acredita na importância de apresentar a arte às pessoas desde a infância e utilizar o espaço da igreja para isso. Ela conta da experiência de sua paróquia, a qual convidou as crianças da catequese para cantarem, fazerem as leituras da missa e representarem as leituras na “Missa da criança”, que já existia anteriormente na paróquia. “Deixar as crianças fazerem parte incentivando a criação não só contribuiu para uma autonomia e interesse das crianças como encheu a paróquia. Os pais começaram a ir na missa pra ver seus filhos, isso une a família”, destaca.