De Babel a Pentecostes

O Pentecostes é celebrado cinquenta dias depois da Páscoa. É uma das celebrações mais importantes do calendário cristão. Essa festa tem origem na liturgia dos judeus que celebravam a festa das colheitas.

O evangelista Lucas indica, no livro dos Atos dos Apóstolos, que a Igreja, após a ascensão de Jesus, passa a ser conduzida pelo Espírito Santo. Narra que seus discípulos ficaram repletos do Espírito e começaram a falar em outras línguas. O Pentecostes é símbolo da missão dos apóstolos enviados a todos os povos da terra. Seu anúncio não fica restrito a um único povo, mas é destinado a todas as culturas, povos e línguas da Terra.

Assim, Lucas quer enfatizar que o dom do Espírito Santo tem um objetivo missionário de fazer com que toda a humanidade possa ouvir e compreender a nova linguagem. O dom do Espírito possibilita que o Evangelho de Jesus seja anunciado, compreendido e vivido na linguagem do amor, da solidariedade, do Projeto de Jesus, do Reino de Deus.

A famosa cena da Torre de Babel é um símbolo para expressar o egoísmo e a prepotência do ser humano, querendo agir contra os princípios divinos (cf. Gn 11,4). Lucas vê em Pentecostes a restauração da unidade perdida na construção da torre de Babel. A Torre, que pretendia atingir o céu, acaba criando divisão e confusão, não conseguindo atingir os objetivos pretendidos. Faltou o senso da comunicação, da confiança em Deus e imperou o desentendimento. Numa linguagem de hoje, diríamos, que faltou sinodalidade, ou seja, capacidade de caminhar e trabalhar juntos. Quando falamos de Pentecostes, eis exatamente o contrário de Babel. O Espírito Santo é como fonte de comunicação e entendimento entre as pessoas.

Vivemos em uma realidade marcada por inúmeros desentendimentos, ofensas, brigas, desrespeito e agressões à vida, polarizações, agressões, guerras, mortes etc. Há uma clara falta de abertura e sintonia para com a fé e à cultura do bem. Não estaríamos vivemos uma grande Babel?

O Espírito Santo de Deus é um sopro de vida que sugere a alegria da missão, também a superação de dificuldades e de desentendimentos. Para isto, temos que lutar para superar as chagas que fragilizam a sociedade, como a indiferença, o ódio, a violência, o descaso, o abuso e a corrupção moral, social e política. O Espírito Santo nos faz todos membros de um mesmo corpo, em Deus.

A Festa de Pentecostes é uma festa missionária comprometida com a construção do Reino de Deus “até os confins da terra”. A descida do Espírito Santo estimula os discípulos de Jesus a falar a língua única do amor e do compromisso com o Reino, para que a mensagem do Evangelho chegue aos confins da terra. O dom do Espírito Santo é dado a cada um de forma individual, mas quando agimos na missão de evangelizar é que sua manifestação acontece de forma completa.

Que o Espírito do Senhor nos conduza para caminharmos juntos, como Igreja (sinodalidade), mesmo em meio ao mundo permeado por polarizações.

Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana