Deus e o sofrimento humano

Deus é amor e o único caminho escolhido por Ele é amar. Deus não envia o sofrimento e o mal, mas continua sempre a amar, mesmo nas situações mais difíceis. Diante do sofrimento, sempre existente na humanidade, e, no nosso tempo se tornando mais intenso, nos perguntamos: vale a pena crer? O que Jesus Cristo nos ensina? Como Deus se porta diante de tanta dor? As dores podem ser de muitas maneiras. Podem ser interiores, do sentido da vida (basta ver a quantia de suicídios de jovens), por traumas, por situações econômicas num mundo que a marca é dada pelo consumo, por desentendimentos familiares ou por tantos outros pontos.

O principal ponto situa-se na compreensão do sentido da vida. Uma vida excessivamente centrada em si mesmo, abarrotada pelo consumo, enquanto outros não têm esta possibilidade, produz pessoas sofredoras. Perguntemo-nos: quando a pessoa tem o suficiente para ser feliz e não sofrer? O excesso de positividade, as exigências de poder render sempre, produzem uma carga de sofrimento e estresse. Por outro lado, temos os sofrimentos frutos de uma doença, que não pede licença e chega. Ele desinstala. Então, qual o centro da vida? Amar e sair de si para servir. Eis o centro da vida humana. Amar sempre e em todas as situações. Sair de si para servir, pois o amor se concretiza ao voltar-se para fora de si mesmo, para os outros, sobretudo a quem mais sofre.

Faz-se necessário a educação humana e cristã para este estilo de vida. Antropologicamente não somos perfeitos, temos falhas e dificuldades. Isto carregamos sempre e podemos ferir os outros. Na vida cristã, olhamos o grande mistério de Deus, que só sabe amar. Por amor Ele nos criou e sempre nos acompanha em nossos passos. Deus tem um amor antecipado por nós. Claro que o importante é saber acolhê-lo. Deus nunca é indiferente ao sofrimento humano, seja qual for o seu modo, mas Ele sofre junto. Sim, Deus sofre porque ama-nos. Basta olhar como Deus agiu na Sagrada Escritura. Ele toma partido conosco. E se ele fica irado é exatamente porque não é indiferente. O Senhor disse a Moisés: “Eu vi a humilhação de meu povo no Egito e ouvi seu clamor por causa da dureza dos feitores. Sim, eu conheço os seus sofrimentos. Desci para livrá-los da mão dos egípcios […]” (Ex 3,7). De fato, Deus, por amor à humanidade, envia seu Filho ao mundo: “De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna, pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,16-17). Assim, não é a cruz que salva, nem o sofrimento, mas o amor de Jesus Cristo. Na cruz, Jesus diz: “Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

Ao amor divino responde-se de dois modos. O primeiro é um ato de gratidão a Ele. A melhor palavra, diante do Crucificado-Ressuscitado é dizer “obrigado, Senhor”. Saber e sentir-se amado, pessoalmente. Uma pessoa não coloca sua vida na humilhação e no negar-se a si mesma, mas a comunhão com Deus se dá no amor, a liberdade de doar a vida, aceitando também os sofrimentos. O segundo modo, o mais cristão, é estender a mão, a proximidade, o ouvir, a presença e o comprometimento. É o contrário da indiferença. A caridade, vivida a partir da fé, é o centro de nossa vida. O sentir compaixão não resolve as dores do outro, mas está do lado e caminha junto. Assim, Deus manifesta seu amor. Não existe outro modo de Deus manifestar seu amor senão vindo ao nosso encontro, habitando as dores da nossa existência. Aí sim, encontramos uma esperança nova. Podemos e devemos dizer sempre, confia em Deus, Ele está contigo.

Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta