Deus infinito e próximo
Deus, em quem cremos, é Santíssima Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo. Uno e Trino. É o mistério central de nossa fé. Mas como traduzir em linguagem humana este grande mistério de nossa fé? Os caminhos que a Teologia, a Espiritualidade e a Pastoral seguiram foram diversos. Por ser grande e infinito podemos imaginá-lo como inacessível ou,por ser tão próximo, o tornamos “explicável” e o reduzimos à nossa pobre compreensão humana.
Deus é sempre maior! Ele extrapola nossa linguagem humana. Ele é o Transcendente, dizemos. Nunca pode ser enquadrado e contido por uma doutrina. Se pudermos dizer algo dele é porque “aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade (cf. Ef 1,9)” (DV 2). É por sua vontade que sai do silêncio para se comunicar. Em nossa vida cristã, sem dúvidas, podemos “experimentar” a presença de Deus, seu amor, sua misericórdia, sua salvação, sua bondade, sua constante providência, etc..Mas, também, Ele é o Totalmente Outro, que mora numa luz inacessível (1Tm 6,16). Por isso é mistério. Dizia Santo Agostinho: “Por mais altos que sejam os voos do pensamento, Deus está ainda para além. Se compreendeste, não é Deus. Se imaginaste compreender, compreendeste não Deus, mas apenas uma representação de Deus. Se tens a impressão de tê-lo quase compreendido, então foste enganado por tua reflexão” (Sermão 52, n. 16: PL 38, 360).
Mas nossa fé cristã nos ensina um caminho para nos aproximarmos de Deus: Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Verbo Encarnado. “Mediante esta revelação, portanto o Deus invisível (cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), levado por Seu grande amor, fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15), e com eles se entretém (cf. Br 3,38) para os convidar à comunhão consigo e nela os receber” (DV 2). Jesus Cristo é O Caminho que mostra-nos a face de Deus. “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9), disse Jesus a Felipe. Em Jesus, Deus se abaixa, se faz um de nós, sem deixar de ser Deus. Ele nos visitou e nos visita constantemente. Por isso, temos acesso a Ele. O critério central para saber se a imagem que temos de Deus é cristã passa pela vida e ensinamento de Jesus Cristo, nos evangelhos e na Tradição da Igreja. Por isto, é falsa a ideia de que Deus é o mesmo para todas as tradições religiosas. Isto porque embora seja sempre o único, a compreensão que as diferentes religiões, filosofias e doutrinas têm se diferenciam. A liberdade religiosa e o respeito pelas opções de cada um pedem que compreendamos os diferentes modos como cada tradição o concebe, pois as consequências no nosso cotidiano são grandes. Por exemplo, se levamos a sério que Deus é misericórdia, como nos ensinam os evangelhos, temos que aceitar sua graça e a salvação que Ele nos oferece. Consequentemente, devemos conduzir nosso agir nos critérios da misericórdia com nossos irmãos, como resposta de gratidão a Deus e nunca em benefício próprio.
«Nele nos movemos e existimos» (At 17,28). Estamos sempre ligados a Ele, como os ramos ao tronco (cf. Jo 15, 1-8). Nós somos imagem de Deus, que é Amor. Se, pelo nosso batismo, vivemos nele e d´Ele, vivemos pelo amor para amar. “O ser humano traz em seu “genoma” o vestígio profundo da Trindade, de Deus-Amor” (Bento XVI, 07/06/2009). Nesta dinâmica do amor de Deus é que somos envolvidos, antes mesmo de nosso nascimento, e acompanhados em toda nossa vida (cf. Mt 28, 20). Neste amor trinitário encontramos o fundamento de nossa existência e a razão de nosso agir. Portanto, somente quem sabe amar pode compreender e dizer algo de Deus, infinito e tão próximo.
Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta