Deus quer salvar toda a humanidade
Escutamos na 1ª Leitura deste Domingo (Isaías 66,18-21) um oráculo messiânico das profecias de Isaías. Recorda-nos que uma das funções do Messias era abater barreiras e reunir todos os povos dando-lhes a possibilidade de contemplar a glória do Senhor. Hoje, para nós, é um dado adquirido que a Igreja é composta por gente de todas as nações. Mas poderemos dizer que nas nossas comunidades se realiza este plano do Senhor? As nossas atitudes e palavras fomentam a união fraterna de modo que todos os homens como irmãos, possam louvar a Deus Pai? Não discriminamos certas pessoas, baseados na sua proveniência, riqueza que possuem, preparação intelectual ou posição social? O Senhor é o Deus de todos os homens. A salvação é uma tarefa a que nos devemos dedicar empenhadamente. A dimensão missionária da Igreja, de que todos somos responsáveis, leva-nos a abrir o coração e a trabalhar nessa aceitação e disponibilidade, esforçando-nos para que aqueles com quem contatamos descubram o caminho para o Pai.
O refrão do Salmo Responsorial (Salmo 116) convida-nos a ir por toda a parte anunciar a Boa Nova aclamando e louvando o Senhor que nos ama sempre e é fiel ao seu amor. Ele deseja a salvação de todos os homens. Todavia, exige o esforço de nossa parte.
O Evangelho deste Domingo (Lucas 13,22-30) vem nesta sequência e constitui um apelo a que entremos pelo caminho da exigência. Geralmente, São Lucas apresenta-nos um Jesus compreensivo, compassivo, amigo dos pobres, dos desesperados, dos que erraram na vida. Contudo, no Evangelho de hoje usa uma linguagem ameaçadora e terrível. Então, agora já não se apresenta como o amigo dos pecadores e dos publicanos com quem fraternalmente comeu à mesa? Como é que agora fala de uma porta estreita que tem de se atravessar, de uma multidão que quer passar e a quem o Senhor fecha violentamente a porta?
Temos de saber interpretar corretamente aquilo que Jesus quer dizer e ensinar. À pergunta que lhe é feita por alguém: “Senhor, são poucos os que se salvam?”, Jesus não responde diretamente. Não aceita falar do mundo e da salvação eterna, mas esclarecer como se entra no Reino de Deus, isto é, como as pessoas se podem tornar seus discípulos. Ele procura fazer compreender que não se pode ser seu discípulo sem renunciar a ser grande, poderoso, dominador, discriminando pessoas, mas em fazer-se pequeno e servo de todos. Pequeno é aquele que se sente perdido e não pode senão apelar para a misericórdia de Deus, para poder passar pela porta estreita. Quem não assume a condição de pequeno seja qual for a sua prática religiosa, não consegue entrar.
Então, Jesus serve-se da parábola para explicar isto mesmo: o dono da casa que não abre a porta é Deus, que organiza o banquete. Alguns passam, mas muitos outros não conseguem entrar porque a determinada altura o senhor fecha a porta. Quem são os que ficam de fora? Aqueles que se identificam por terem comido e bebido com Ele. Não são os pagãos, mas membros da comunidade cristã. São aqueles que têm o seu nome nos registros paroquiais, que escutam o Evangelho, que participam do banquete eucarístico, que rezam, participam de procissões, assistem a pregações. São as pessoas que acham que por fazerem isto já podem entrar na festa. Mas não! Falta-lhes o indispensável: o fazer-se pequenos para poderem entrar pela porta estreita. Que não façam discriminações de pessoas, que não se sintam os maiores. Jesus usou de palavras duras para pôr de sobreaviso aqueles que pelo fato de pertencerem à comunidade cristã estão convencidos que são santos, melhores que os outros, puros, justos. O que é certo é que estes não conseguiram entrar. Humildade, antes de tudo!