Deus vem nos salvar

 Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório

Sempre me chama atenção as experiências missionárias e delas nos vem novas luzes e nos edificam. Lendo a revista “Mundo e Missão”, o Pe. Gianfranco Vianello escreve sua experiência de Natal vivida por ele nos Camarões, ainda em 1977.

Diz ele: “Foi o meu primeiro Natal na floresta. E tudo falou de vitalidade, de nascimento, de novidade humana e divina. O menino Jesus nasceu como todos os outros, que precisam de tudo e de todos, com pai e mãe cercados de pastores, simples e pobres.

Um pouco disto se dava na pequena aldeia da floresta camaronesa. Criançinhas eram amamentadas durante a Eucaristia, elevando ao Deus da vida a alegria de terem nascido, na esperança de crescer. ‘Da boca de crianças e bebês sobe a Ti o louvor, ó Senhor nosso Deus’, dizia o salmo.

Assim começou a presença de Deus na história humana. E o sinal dessa presença foi apenas a humanidade de uma criança, o Filho unigênito do Pai. Com este fato Deus nos transfere a sua presença e a Palavra para a história dos homens. A encarnação é o mistério da presença que salva.

Natal é vida, ‘vida em abundância’, dirá Jesus. Sim! O Natal desperta doçura e amor, solidariedade e paz, mas, sobretudo, desperta a dignidade do homem, da vida, do começo, e nos assegura que Deus está do nosso lado e, sobretudo dos pobres, daquele ‘resto fiel’ que confia em Deus.

É vontade inesgotável de Deus habitar entre Seu povo. ‘Hoje nasceu na cidade de Davi, um Salvador’. O ‘Hoje’ marca o momento em que Deus cumpre a promessa após a longa espera de Israel e dos povos todos. A entrega não só do projeto de homem e da humanidade, mas também do seu espírito, sua energia, sua luz para que as pessoas possam aceitá-las, interiorizá-las, metabolizá-las, garantindo assim que os seus pensamentos são pensamentos de Deus, seus caminhos, suas escolhas, seus meios são os caminhos e as escolhas de Deus.

Natal é a revelação de uma grande verdade: somos filhos de Deus. Há um destino de eternidade e plenitude para nós. Esta verdade já está presente, mas não totalmente desenvolvida. O que falta cabe aos missionários. Esta é a missão que nos é dada pelo Senhor para continuar Sua presença até os confins da Terra e para todas as pessoas.

Natal, Jesus, a Sua Palavra são as sementes colocadas na turbulência e no tormento da história humana; sementes sem as quais o prepotente leva o melhor, o astuto explora os outros, o poderoso escraviza os demais.

O Natal é a oferta de uma vida que se renova: assim como a cigarra abandona a pele velha. Porque produz uma nova, assim é o coração do homem: ele deve se regenerar, purificar, brilhar, para refletir os raios da justiça e paz, da transcendência e solidariedade.

Uma criança nos é dada. Por definição, a criança é um projeto a ser aberto, chamado a se desenrolar. Deus se torna criança para que os nossos projetos não se obscureçam, não se fechem no passado e se apaguem no futuro, mas que se mantenham vivos e geradores de vida e de justiça.”.

‘A encarnação é o mistério da presença que salva’ afirmava o missionário Vianello. Sim, Deus se revelou e se fez presença na feição de criança, na pessoa do menino Jesus. Interessante como Deus tem seus caminhos para se aproximar da humanidade. O grande e todo poderoso se faz pequeno para fazer-nos grandes a seus olhos. É assim que Deus vem nos salvar. Ele chega até nós na feição meiga de uma criança.

O frescor e a ternura da criança, um mistério a ser desvendado e mostrado com o passar dos anos é o que se passa na nossa busca de vislumbrar o amor de Deus por nós. Vamos penetrar nele aos poucos, com o passar dos anos, se mantivermos a simplicidade das crianças.

Deus veio, vem e continuará a vir, não só, cada ano, por ocasião do Natal, mas sempre, por todos os dias de nossa vida.

Vem Senhor Jesus, vem nos salvar!

 

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