Dialogar é um aprendizado

A Campanha da Fraternidade 2021 propôs o tema: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”.  Um tema que merece toda a atenção tanto na compreensão do significado do diálogo como no exercício de dialogar. A carta encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco sobre a fraternidade e a amizade social oferece uma profunda reflexão sobre diálogo. Partilho alguns ensinamentos do capítulo VI, que vai dos parágrafos 198 a 224.

“Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isto se resume no verbo “dialogar”. Para nos encontrar e ajudar mutuamente, precisamos de dialogar. (…) O diálogo perseverante e corajoso não faz notícia como as desavenças e os conflitos; e, contudo, de forma discreta, mas muito mais do que possamos notar, ajuda o mundo a viver melhor” (198). O tema do diálogo proposto pela Campanha da Fraternidade se refere às mais diferentes situações da vida, desde as relações interpessoais, familiares até as institucionais, ecumênicas e inter-religiosas. A falta de diálogo, em qualquer ambiente, é notícia; quando existe pouco é visibilizado e reconhecido.

As redes sociais abriram um amplo espaço de manifestação e deram voz a muitos. Nem tudo pode ser denominado de diálogo pois, “uma troca febril de opiniões nas redes sociais, muitas vezes pilotada por uma informação mediática nem sempre fiável. Não passam de monólogos que avançam em paralelo(…) mas monólogos não empenham a ninguém” (220). O critério para chamar os debates diálogo é se há preocupação com “o bem comum” (202).

“O diálogo social autêntico pressupõe a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro, aceitando como possível que contenha convicções ou interesses legítimos. A partir da própria identidade, o outro tem algo para dar, e é desejável que aprofunde e exponha a sua posição para que o debate público seja ainda mais completo”. (203) Dar voz a uma pessoa ou grupo se expressar de uma forma ampla e profunda permite captar as suas convicções, deste modo, abre-se uma possibilidade de avançar na busca da verdade sobre o tema em questão.

“O relativismo não é a solução”(206). Dialogar não significa aceitar que todos os argumentos podem ser aceitos e em nome de uma presumível tolerância abrir-se mão de valores morais, abraçando o relativismo. “Uma sociedade é nobre e respeitável, nomeadamente porque cultiva a busca da verdade e pelo apego seu às verdades fundamentais” (207).

O que  Francisco entende por verdade? “É, antes de mais nada, a busca dos fundamentos mais sólidos que estão na base das nossas opções e também das nossas leis. Isto implica aceitar que a inteligência humana pode ir além das conveniências do momento atual e captar algumas verdades que não mudam, que eram verdade antes de nós e sempre o serão. Indagando sobre natureza humana, a razão descobre valores que são universais porque derivam dela” (208).

Como exemplo de verdade que não pode ser negada são “os direitos humanos fundamentais”, que não podem ficar reféns de consensos ou negociações. “Ser o dono do mundo ou o último “miserável” sobre a face da terra, não faz diferença alguma: perante as exigências morais, todos somos absolutamente iguais”. (209, São João Paulo II). Outro exemplo é que “todo ser humano possui uma dignidade inalienável” (213).

“O que conta é gerar processos de encontro, processos que possam construir um povo capaz de recolher as diferenças. Armemos os nossos filhos com as armas do diálogo! Ensinemos-lhes a boa batalha do encontro! ” (217) “Ignorar a existência e os direitos dos outros provoca, mas cedo ou mais tarde, alguma forma de violência, muitas vezes inesperada” (219).

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo