Domingo da Divina Misericórdia
O 2º Domingo da Páscoa foi designado pelo Papa São João Paulo II como domingo da Divina Misericórdia.
A nossa condição de pecadores e a condenação de Jesus à morte, realidades estas que vivenciamos na Quaresma e celebramos na Semana Santa, mostram-nos aquilo de que nós somos tristemente capazes e ajudaram-nos a reconhecer as nossas misérias que levam ao abandono de Deus e ao desprezo pelos outros; a Páscoa mostra-nos a resposta de Deus a essa miséria: uma generosidade sem limites, muito para além da justiça, a «Misericórdia infinita de Deus».
Jesus teve gestos surpreendentes de perdão para toda a categoria de pecadores, homens e mulheres, e contou muitas parábolas para fazer compreender a misericórdia de Deus. Foi São Lucas quem melhor selecionou essas parábolas, sendo a mais explícita a do filho pródigo, que melhor se chamaria a parábola da misericórdia de Deus, Pai de misericórdia. Essa misericórdia de Deus atingiu o máximo no mistério da Cruz.
Acerca da morte de Jesus na Cruz, ouvimos dizer desde crianças que a sua morte foi um modo de «restabelecer a justiça» divina quebrada pelo abuso constante do mundo; que a Cruz foi o modo de Jesus «expiar» os pecados de todos os homens, que a Cruz foi o «preço» da nossa salvação.
Essas palavras (satisfação da justiça divina, expiação do pecado, preço da salvação) são verdadeiras, mas o falecido Papa São João Paulo II, o Papa Emérito Bento XVI e também o Papa Francisco ensinam que essas palavras devem ser mais bem compreendidas. Este domingo da Divina Misericórdia deve ajudar-nos a essa melhor compreensão
É melhor dizer que o que se passou na Cruz foi a manifestação da infinita misericórdia de Deus. Jesus foi muito além do que era preciso, e as suas dores foram acompanhadas de um infinito amor por nós. Jesus já havia manifestado essa abundância do amor nas bodas de Caná, e repetiu-a na multiplicação dos pães: dá sem medida e ainda sobra vinho e sobra o pão.
A Cruz de Jesus é sobretudo obra da misericórdia divina, obra da «abundância e do excesso» de Deus. Essa misericórdia de Deus é mais que «compaixão»: é a manifestação das «entranhas de Deus», da ternura de Deus, da «bondade infinita da natureza de Deus».
Depois do pecado do mundo, os homens não tinham mais como se dirigir a Deus para lhe pedirem perdão, como seria natural. Afastavam-se calados. Mas Deus não fica à espera: Ele próprio vem ao encontro da humanidade. O Natal e a Cruz aparecem no Novo Testamento, em primeiro lugar, como um movimento descendente, uma dádiva da Trindade realizada por Jesus, como nos ensina o Papa Emérito Bento XVI.
A misericórdia de Deus não anula a justiça nem a necessidade de pedir perdão a quem ofendeu a Deus pelo pecado. Jesus demonstrou esses valores com Zaqueu e com o bom ladrão. Mas a justiça não exprime totalmente o mistério de Deus. A pura justiça deixa tudo muito frio e pleno de lacunas: o homem precisa de misericórdia. É por isso que nos alegramos neste Domingo, com o anúncio da imensa misericórdia de Deus para conosco.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen