Educar na era digital
A era digital lançou suas redes sobre toda realidade do Planeta e remodelou conceitos que pareciam consolidados nas mais diversas áreas do saber. Hoje há uma nova percepção de pertencimento a uma comunidade, ou a um grupo, uma nova visão de relacionamentos, um novo olhar sobre a pessoa e o mundo.
Cada um pode produzir informações e compartilhar conhecimentos. Supera-se o modelo de comunicação linear e sequencial, caracterizado por um emissor que fala a um destinatário. Surge uma comunicação interativa da qual também o antigo destinatário participa e produz a informação e pode informar e formar.
Esse novo modelo comunicativo transforma a realidade, potencializando a atividade cognitiva com interações múltiplas e novas instâncias de formação, comportando, inclusive, novos riscos de informação equivocada. Trata-se de um sistema mais personalizado de comunicação que facilita a emissão de opiniões, suscita debates e provoca posicionamentos.
A portabilidade da informação é fascinante, pois favorece o encontro de novas relações e experiências, superando as possíveis barreiras geográficas, econômicas e culturais. O espaço cibernético parece se contrair, e se tem a sensação de que o vasto mundo ficou menor, mais acessível, próximo e íntimo.
Todo esse contexto cultural, contudo, tem gerado uma temporalidade acelerada, ou como diz o Papa Francisco, a “intensificação dos ritmos de vida e trabalho pode ser denominada tempos de rapidación” (Laudato Sì, 18).
A rede social porta consigo uma ambiguidade: por um lado, o sujeito se expande com suas fotos e histórias, desejando que sejam compartilhadas e curtidas; por outro, cresce a associabilidade daqueles que preferem apenas a socialização digital. Assim, o fácil acesso às informações, não acompanhado de uma consciência crítica na sua seleção, está favorecendo uma notável superficialidade no campo educativo, um empobrecimento não só da razão, mas da própria capacidade de imaginação, de pensamento crítico e criativo.
Novas tecnologias são instrumentos que possibilitam muitas oportunidades para uma educação mais qualificada na contemporaneidade. Sua má utilização pode, contudo, provocar o surgimento de um indivíduo distraído, com menos capacidade de memória, menos resiliente e mais suscetível a informações equivocadas, veiculadas nas redes sociais. Não é a posse do meio que determina seu bom uso, mas o cuidado pedagógico que se tem, na medida em que se integra o saber e o viver.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria