Eleições 2020: À luz da Fratelli Tutti, Dom Joel fala sobre a ‘política melhor’
Contrapontos podem guardar a força capaz de reconfigurar interpretações e, consequentemente, redefinir rumos, na vida pessoal ou na sociedade. Oportuno é, pois, de acordo com o arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, se dedicar ao contraponto que o Papa Francisco estabelece entre a “política melhor” e a desacreditada política, no quinto capítulo de sua recente Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social.
Dom Walmor afirmou em seu artigo intitulado “A Política Melhor” que há um crescente descrédito em relação à política, particularmente a partidária, conforme se percebe no Brasil. Essa ausência de credibilidade, de acordo com ele, é um fenômeno que se consolidou ao longo da história, enraizando-se no imaginário dos cidadãos, impondo prejuízos à sociedade.
“Uma das consequências graves desse descrédito com a política é a permissividade na lógica da economia. Cada vez menos considerada pelos cidadãos, a política fica à mercê do desgoverno excludente do dinheiro, que se torna o mandatário maior. É preciso, pois, revigorar o exercício da cidadania, compreendendo que a “política melhor” é a que está a serviço do bem comum. Esse entendimento proposto pelo Papa Francisco exige reconhecer a incontestável importância da política”, salientou dom Walmor.
Sabe-se, neste ano de eleições municipais, sobre a importância de se acertar nas escolhas. Segundo dom Walmor há um quadro abundante de candidatos. “Isso exige maior atenção dos eleitores para identificar aqueles que são capazes de ir além das promessas e efetivamente trabalhar pelo bem comum”, garante. O desafio, de acordo com o arcebispo, é saber quem tem qualificação humanística e competência para liderar em uma realidade desafiadora. “Apesar de existir ampla lista de nomes a serem submetidos ao voto nas eleições, são raros os que reúnem essas necessárias qualidades. Ao invés disso, observa-se o desprezo sobre a situação dos mais pobres, camuflado sob o formato populista ou liberal para, demagogicamente, instrumentalizar os mais vulneráveis e alcançar interesses egoístas”, aponta.
Dom Walmor diz ser verdade a existência de líderes populares capazes de interpretar os anseios de um povo, a sua dinâmica cultural e as grandes tendências de uma sociedade, conforme reflete a Carta Encíclica Fratelli Tutti.
Para dom Walmor é incalculável o tamanho do desafio ante a urgência de operar mudança no coração humano para reconfigurar hábitos e estilos de vida. “Modos de pensar estreitos e percepções limitadas a respeito do mundo inviabilizam avanços sociais, promovem o fenômeno da superficialização da política, trazendo prejuízos para o exercício da cidadania”, diz. Entre essas fragilidades humanas, o arcebispo garante que a Carta Encíclica sublinha a tendência constante para o egoísmo, que faz parte daquilo que a tradição cristã chama “concupiscência” – a inclinação do ser humano a fechar-se na imanência do próprio eu, do seu grupo, dos seus interesses mesquinhos. “É hora de fazer nascer contrapontos à política desacreditada, enraizada nas limitações humanas, a partir de vigorosa tarefa educativa. Essa tarefa seja capaz de inspirar hábitos solidários, a consideração da vida de modo integral, com relações mais humanizadas”, afirmou.
Nesse caminho, ainda conforme dom Walmor, a própria sociedade reagirá às suas injustiças, às aberrações, aos abusos dos poderes econômicos, tecnológicos, políticos e midiáticos. “Torna-se, pois, urgente dedicar-se ao que é necessário para fazer prevalecer a ‘política melhor’. E a partir de novos sentidos, com narrativas edificantes, estabelecer dinâmicas capazes de banir, definitivamente, obscurantismos e todas as práticas que inviabilizam a preservação da vida, da Casa Comum”, finalizou.
Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
Com informações da CNBB