Em que mundo vivemos?
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico WestphalenOlhando ao nosso redor, nós cristãos podemos nos dar conta de que é preciso ter uma visão realista e comprometida da vida, para podermos viver conforme o que Deus espera de nós.
A visão negativista do mundo e da realidade é totalmente ruim para qualquer pessoa. É difícil conviver com uma pessoa que vê tudo sempre com tonalidades negativas. Da mesma forma, uma visão “angelista” da realidade cria pessoas que acabam vivendo em um mundo irreal, de sonhos, onde tudo parece sempre ir às mil maravilhas.
O cristão é chamado a ser realista, a desenvolver padrões de avaliação da realidade capazes de fazer julgamentos equilibrados sobre o mundo ao seu redor, sobre as pessoas, sobre si e, sobretudo, sobre Deus. E a realidade de sua fé, enraizada na vida, nunca lhe permitirá condenar o mundo, olhando-o como se estivesse de fora. Em vez disso, ele abre o seu coração para os males existentes, com os quais ele reconhece e se identifica, sempre procurando lutar contra eles com os meios que Deus coloca à sua disposição. Esta é uma das exigências do Batismo.
No Evangelho deste Domingo (Mateus 9,9-13), vemos como o olhar dos fariseus da época de Jesus os tornava juízes do comportamento alheio, colocando-se fora desse julgamento, como se não pertencessem àquele mundo dos “pecadores”.
Comer com pecadores, nos tempos de Jesus (hoje também não será assim?), compartilhando a mesa com eles, procurando ir ao encontro de seus valores errôneos, para entendê-los, buscando convertê-los para a verdade, significava pecar.
A maneira como Jesus convida Mateus, o cobrador de impostos, não apenas choca os presentes, mas é verdadeiramente revolucionária por minar o padrão de como se deve tratar alguém que é considerado um pária. Ele não apenas chama e convida os pecadores, mas também se convida para a mesa deles.
Jesus nos ensina que só assumindo o pecado dentro de mim ou em solidariedade com o mal que existe ao meu redor, posso entrar no processo de conversão. É isso o que Ele espera dos cristãos e da Igreja.
Jesus não nos quer como juízes dos outros, mas que tenhamos a mesma atitude em relação aos considerados pecadores: que a Igreja e cada um de nós exerça o julgamento de Deus que chama à sua mesa os pecadores em vez de justos, para que se convertam e tenham a vida eterna.
Mateus, o cobrador de impostos, imediatamente seguiu Jesus. Ele se levantou e seguiu o Senhor.
Os Evangelhos contam o básico: Jesus viu e chamou. As palavras de Jesus tiveram um efeito imediato.
Por sua vez, Jesus não teve medo de se manchar com os pecados dos que o seguiram. A bondade de Jesus “contagia” os pecadores, afastando-os do poder do pecado. O seguir Jesus significou para Mateus deixar para trás todo o pecado.
Afinal, ao citar as palavras do Profeta Oseias, que escutamos também na 1a Leitura (Oseias 6,3-6) “quero o amor e não sacrifícios”, Jesus estava na linha do que os profetas ensinavam, e os fariseus se esqueceram disso.
Reduzir o cristianismo à observância de rituais e mandamentos, como os fariseus fizeram à fé judaica, é transformá-lo em uma caricatura muitas vezes ofensiva do próprio Jesus. Não é essa a razão da frequente falta de credibilidade em relação à fé cristã?
Voltar à pureza do Evangelho é voltar à prática da espiritualidade e da verdade, obviamente difícil, até mesmo ignorada, e reduzida a puro consumismo aos olhos de uma cultura de padrões estabelecidos, sem visão além. Uma necessidade urgente de voltar à consciência da fraqueza e do pecado para gerar a necessidade de graça, a necessidade de redenção não em mim ou ao meu redor, mas do alto e na solidariedade com meus irmãos como sou pecador. Com efeito, o que salva o pecador é o acolhimento do amor de Deus, a misericórdia revelada por Jesus. O exemplo de Abraão, que se tornou pai dos crentes, mostra que a justificação não vem da obediência à lei, mas da fé: ele acreditou no que Deus lhe disse contra todas as probabilidades. Ele acreditou e enfrentou as consequências finais de sua incredulidade. Sabemos também que estamos longe de Deus e não podemos nos salvar por nossas próprias forças.
Ao ressuscitar Jesus, Deus provou que nos perdoou e nos reconciliou com ele. Deus nos oferece a salvação como dom gratuito de seu coração misericordioso.
Como nos sentimos em relação aos outros durante a semana? Nossos julgamentos são benevolentes ou condenatórios? Em geral, avalio as outras pessoas de forma mais negativa ou positiva? As pessoas com quem falo têm apenas defeitos ou vejo alguma bondade nelas? Eu me olho pelo menos tanto quanto olho para eles? Quais são os nomes daqueles que são excluídos da minha vida?
Acolhamos amorosamente a Palavra do Senhor neste Domingo, pedindo a Ele o dom e a capacidade de sermos acolhedores com todos, para ajudá-los a encontrar o caminho do Senhor em suas vidas.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen