Em que sentido Maria é Rainha?
Alguém poderia questionar o sentido de proclamar Maria Rainha em pleno século XXI. Ocorre que esse título, quando aclamado pela Igreja, tem um lato senso, há um alargamento do sentido habitual que atribuímos a monarcas e soberanas. Desde o século IV Maria é aclamada Rainha na Igreja, mas denominar especificamente esse título a um povo, como no caso de Aparecida, Mãe e Rainha do Povo Brasileiro e a Medianeira, Rainha do povo gaúcho, implica aprofundar o sentido bíblico e teológico de tal afirmação.
Dentre todos os santos e santas de Deus se destaca a Santíssima Mãe do Senhor, a intercessora por excelência, a medianeira da Graça. Maria é rainha de todos os santos porque nos recorda que a consagração batismal nos possibilita participar da vida de Deus e entrar em relação com ele, buscando a própria santidade.
Maria é rainha porque vive as bem-aventuranças do Reino de Deus. Jesus: “Felizes os pobres.” No Magnificat, Maria canta que o Senhor olhou para a condição humilde de sua serva. (Lc 1,48). O Reino de Deus já é dos pobres embora permaneça a tensão entre o presente e o futuro. Maria é a mulher bendita e feliz, porque nela se cumpre o que o Senhor prometera.
Depois Jesus disse: “Felizes os aflitos.” “Consolação” indica a alegria do mundo novo, no qual não haverá mais o mal. Um dos títulos que a tradição atribuiu a Maria é “Consoladora dos Aflitos”. Como consoladora dos aflitos, Maria expressa sua solidariedade para com os sofredores e, ao mesmo tempo, a esperança de mediação e intercessão ao Espírito– o “Consolador”.
Jesus também declara felizes os mansos, pois eles herdarão a Terra. Mansos são os que não fazem valer os seus próprios direitos e cedem, ao invés de se irritarem. Quantas vezes Maria enfrentou situações complexas diante do mistério da vida de Jesus. Em todas essas situações, ela silencia e medita mansamente, em seu coração.
Disse Jesus: “Felizes os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados. No Magnificat a Virgem declara: “O Senhor sacia de bens os famintos, depõe os poderosos e despede os ricos sem nada.” (Lc 1,52-53). Jesus quer uma justiça que dê ao outro o que ele precisa para refazer sua vida com dignidade.
E Jesus felicita os misericordiosos, cujo coração se deixa tocar pela miséria do outro como se fosse dele mesmo. A Virgem proclama que a misericórdia do Senhor “Se estende de geração em geração. (Lc 1,50).
Jesus proclama: “Felizes os puros de coração, pois verão a Deus”. O coração, centro da pessoa, contém o Filho que mora pela fé em nosso coração. (Ef 3,17). A Virgem sempre foi aclamada como “toda pura”, sem mancha e resplandecente de beleza, reza o Prefácio da Imaculada. Sua pureza indica sua integralidade de humana que não conhece ambiguidades em sua forma de ser e agir. Ela é toda de Deus, o “Santo!”
“Felizes os que promovem a paz”, diz Jesus, “porque serão chamados filhos de Deus”. Inúmeras são as manifestações e devoções da Mãe de Jesus estimulando o fim das guerras, do ódio e da violência. Maria exerce, sempre, um verdadeiro ministério da paz sobre o mundo.
“Felizes os que são perseguidos, desses é o reino dos Céus” falou Jesus. A Virgem viveu essa dura experiência de acolher o Reino em meio à rejeição que seu Filho enfrentou a ponto de ser crucificado. Mas Maria estava lá, aos pés da Cruz.
Sobre o lugar da santidade de Maria na comunhão dos santos, escreveu a mística Santa Terezinha do Menino Jesus: “Sabe-se bem que a Santíssima Virgem é a Rainha do Céu e da Terra, porém é mais mãe do que rainha; e seria necessário não fazer acreditar (como com frequência tenho ouvido dizer) que a causa de suas prerrogativas eclipsa a glória de todos os santos, como o sol ao levantar-se faz desaparecer as estrelas. Meu Deus, que estranho! Uma mãe que faz desaparecer a glória de seus filhos! Eu penso exatamente o contrário, eu creio que ela aumentará muito o esplendor dos eleitos!” [1]
[1] LAURENTIN, R. María. Clave ed misterio cristiano, p. 50.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3