Em tempo de pandemia, confirmar e irradiar a esperança
Na luta da vida, se diz que a esperança é a última que morre. É expressão que revela a segurança dos quem cultivam fé firme e a resistência dos pobres e sua ilimitada confiança em Deus. Mas nas dificuldades maiores da vida, mesmo quem não cultiva a fé, não reza ordinariamente, busca a força de Deus. Recente pesquisa na Inglaterra revela que, diante da emergência da covid-19, 2.6 de milhões de britânicos rezaram pela primeira vez e outros 5 milhões, que não participavam de cerimônias religiosas, agora o fazem através dos meios de comunicação, sobretudo das transmissões da missa.
A esperança é a força que impulsiona a vida. Ela é virtude teologal. Uma das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Fé como adesão a Deus, aceitação de seu mistério trinitário, de seu amor de Pai, da encarnação de seu Filho, da presença do Espírito Santo no mundo, continuando a obra de Cristo. Esperança como força que nos faz peregrinar como se víssemos o invisível, na certeza da construção do Reino, que este mundo pode ficar do jeito que Deus quer e que, na fidelidade e perseverança, teremos vida em plenitude na eternidade. Caridade que nos abre ao amor a Deus acima de tudo e aos irmãos como a nós mesmos; que faz colocar ternura e misericórdia nas relações humanas, superando a injustiça, a opressão, a dominação, a exploração.
Ela é a âncora da vida. O navio quando chega ao porto, tem na âncora o seu ponto de apoio para a realização dos procedimentos necessários. Nosso ponto de apoio é a fé, é a esperança, que nos fazem antever o novo céu e a nova terra, nos asseguram que Deus enxugará toda lágrima de nossos olhos, como nos fala o livro do Apocalipse. No meio das provações, como esta do Coronavírus, a pessoa de fé lança a âncora que lhe dá segurança, a esperança viva que está em seu coração.
Na esperança, em meio aos sofrimentos, podemos superar atitudes negativas, completamente opostas entre si: a revolta e a resignação. Com fé e esperança, vivemos a única atitude digna e engrandecedora que é, em Cristo, assumir a cruz, que representa todo tipo de provações. Nelas, podemos comprovar qual é “a razão de nossa esperança”, como nos exorta São Pedro em sua carta; “esperança que não decepciona”, como diz São Paulo, na carta aos Romanos.
O eminente Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns que foi bispo auxiliar e Arcebispo de São Paulo e baluarte na defesa dos direitos humanos, especialmente no tempo da ditadura, falecido no dia 14 de dezembro de 2016, tinha como lema: “De esperança em esperança”. E todos nós vivemos de esperança em esperança.
As provações, como esta do Coronavírus, Covid-19, são oportunidades para confirmar e testemunhar nossa esperança. Nosso Papa Francisco, sempre muito próximo e paternal neste momento, na mensagem à cidade de Roma e ao mundo (urbi et orbi) extraordinária do dia 27 de março, disse que, em meio a esta “tempestade”, Deus nos convida a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. Exortou-nos a não apagar a mecha que ainda fumega, conforme o profeta Isaías (42,3), que nunca adoece, e a deixarmos que reacenda a esperança.
Na mensagem de Páscoa, Francisco lembrou que na vigília pascal ressoou forte a voz da Igreja a proclamar num de seus hinos: “Cristo, minha esperança ressuscitou”. Ressaltou que este anúncio irradia um contágio diferente, a certeza da vitória do amor sobre a raiz do mal, é o contágio da esperança.
Possamos, pois, reavivar a esperança, irradiando este desejável contágio, que não é fórmula mágica, mas força indispensável para a vida voltar à sua normalidade.
Pe. Antonio Valentini Neto – Administrador Diocesano de Erexim