Enchente destruiu bens materiais, mas não destruiu a fé

Foto: Sofia Kich

A enchente sem precedentes que teve início no fim de abril e durou até quase todo maio no Rio Grande do Sul, provocou mortes e rastros de destruição por toda a parte. No território da Diocese de Santa Cruz do Sul, região central do estado, diversos municípios foram atingidos, a maioria deles no Vale do Taquari. Em Cruzeiro do Sul, município que contabiliza 12 mortos, 6 pessoas desaparecidas e centenas de desabrigados, o bairro Passo de Estrela foi completamente destruído. Das 850 moradias, 600 foram levadas pela correnteza, sobrando apenas resquícios de um bairro que até então, era habitado por centenas de famílias.

A estrutura da igreja da comunidade Nossa Senhora de Fátima, construída em 1954, que já havia resistido à outras enchentes, infelizmente, desta vez não resistiu e cedeu com a força da correnteza da maior cheia do Rio do Taquari. Dela, restou apenas a imagem de Nossa Senhora de Fátima, localizada em meio aos destroços — com quase três metros de altura, ela ficava no topo do templo religioso e era um marco para o bairro. Os bancos e o altar desapareceram, como destaca o Pároco, Pe. Ezequiel Ezidro Perin:

“Ela [imagem de Nossa Senhora] permaneceu e representa a fé, não só a fé católica, mas a fé das pessoas de um recomeço, porque a Mãe de Deus ali permanece. Esta imagem tem todo um sentimento, nela as pessoas olhavam porque ela estava no topo da igreja e ali rezavam e também se encontravam com o próprio Deus”, afirma o sacerdote.

Foto: Jéssica R. Mallmann

No sábado, dia 25 de maio, moradores daquela comunidade católica juntamente com o padre Ezequiel Perin, se uniram para rezar e reerguer a imagem de Nossa Senhora de Fátima que foi retirada dos escombros às margens da Rua Ruben Feldens. Ela foi levada até a Rua 12 de Outubro, local não atingido pela catástrofe. A ideia da comunidade é, no futuro, construir um memorial no local onde era a igreja da comunidade, esclarece o padre.

“Há um sentimento, e nós queremos preservar está memória, está fé. No local onde era a igreja e o salão, será construído um memorial para homenagear as pessoas que fizeram parte desse bairro, dessa comunidade católica e também as pessoas que faleceram. Então, será um marco de fé” afirma.

Acolhida e doação

A enchente foi a maior já registrada na história do município. A Paróquia São Gabriel Arcanjo teve cinco capelas atingidas, além de alguns salões e capelas mortuárias bastante danificadas. Contudo, diante toda a essa realidade, a paróquia colocou à disposição suas estruturas para atender as vítimas das enchentes. O salão da Paróquia São Gabriel Arcanjo, se transformou em ponto de coleta e distribuição de donativos. Uma parceria entre a paróquia e a prefeitura, possibilitou que fossem realizadas refeições no salão paroquial. A estrutura da Igreja Matriz, inicialmente, tornou-se abrigo. Por cerca de uma semana, aproximadamente 80 pessoas foram alojadas no local.

“Nós, como paróquia, cedemos espaços que foram transformados em abrigo e as lideranças das nossas comunidades estavam lá coordenando, preparando refeições, limpando casas e separando roupas. E, claro, aqui está todo um trabalho humanitário, mas também nos esforçamos para, como igreja, manter a fé e a esperança viva nas pessoas. O mais importante, que transmitindo a fé e a esperança, somos irmãos, somos comunidade cristã que tenta fazer a diferença no espaço onde está inserida”, afirma.

Atualmente a paróquia serve em torno de 2.200 refeições por dia para as pessoas que ali estão abrigadas e aos voluntários de toda a parte. Das 70 pessoas que foram abrigadas no Pavilhão da Comunidade Santa Ana da Maravalha, hoje ainda restam 30. Na Comunidade São Miguel Arcanjo da Linha Sítio, das 30 pessoas acolhidas inicialmente, a última família deixou o local no domingo, 09 de junho. A Paróquia segue arrecadando e distribuindo donativos e agora está envolvida na compra de móveis e eletrodomésticos para ajudar aqueles que estão reconstruindo seus lares.

Diocese de solidariza com os atingidos

A Diocese de Santa Cruz do Sul, em apoio mútuo para atender as necessidades das diversas cidades atingidas, colocou todas as suas estruturas (salões paroquiais, salas de catequese, casas paroquiais e igrejas) a disposição para acolher as pessoas. Em praticamente todas as paróquias foram montados pontos de coleta e distribuição de donativos e algumas ainda funcionaram como local para a preparação e distribuição de alimentos e abrigo. Os centros de recebimento de donativos instituídos pela Diocese são: o Seminário São João Batista, em Santa Cruz do Sul, e a Paróquia São Cristóvão, em Lajeado. Nestes locais, chegam as doações vindas de toda a diocese, mas principalmente as vindas de outros estados. Posteriormente, estas doações são destinadas aos espaços de acolhimento das paróquias.

Também foi lançada uma campanha de arrecadação de recursos financeiros, que até o dia 03/06/24, arrecadou o valor de R$ 891.877,52. Deste total, até o momento foram aplicados R$ 28.834,95. O bispo diocesano, dom Aloísio Alberto Dilli, explica que os valores serão destinados propriamente para as comunidades e seus membros participantes e mais atingidos.

“Os gastos se concentrarão para a aquisição de eletrodomésticos, móveis e outros utensílios de necessidade básica, para quando as pessoas retornarem para as suas casas”, disse. Para concluir, Dom Aloísio agradece a todas as pessoas que solidarizaram com a campanha e afirma que “o amor ao próximo, a caridade, é o ato mais nobre que a pessoa humana pode realizar. O verdadeiro amor é divino, pois é dom de Deus”.

 

Texto: Rosibel Fagundes | Diocese de Santa Cruz do Sul