Escutar a Palavra de Deus
O ministro sagrado que nos batizou disse, ritualmente, estas palavras, tocando em nossos ouvidos e em nossos lábios: “O Senhor Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos falar, lhe conceda que possa logo ouvir a sua Palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus Pai“.
Dar atenção e ouvir a Palavra de Deus é muito importante em nossa vida. É o que nos alerta a 1a Leitura deste Domingo (Isaías 55,10-11). Ouvir com coração e inteligência, mergulhar nela, tornar a terra da vida fértil e produtiva.
Também é nosso dever colocar esta Palavra em nossos corações. A Palavra do Senhor é como o alimento: precisa ser comido, mastigado e digerido para alimentar nossa alma e nos tornar colaboradores dinâmicos na renovação que Deus quer realizar em nós, nas demais pessoas e no mundo.
A Palavra torna-se vida em nós quando proferida a partir de uma autêntica experiência de oração, de diálogo íntimo com o Senhor, de participação na vida divina, através da Graça Santificante.
A Palavra viva de Deus é Jesus. Esta Palavra (o Verbo de Deus) se fez carne e habitou entre nós.
Cristo Jesus quer ser o centro de nossa vida. Ele é a Palavra que ilumina nossa existência e a do mundo. Ele nos dá o sentido, o significado mais profundo de nossa existência, para cumprirmos a vontade de Deus, em relação ao ser humano e à sua história.
A Palavra e o Alimento que Deus compartilha, que é Jesus, nos faz crescer, nos cura, nos liberta do mal e do pecado, nos conduz à vida eterna. Especialmente nos Sacramentos da Fé, experimentamos este poder extraordinário que vem de Deus.
A Liturgia da Palavra deste Domingo quer nos ajudar a entender a importância de acolhermos Jesus, mesmo enfrentando as dificuldades inerentes à nossa humanidade, ferida pelo pecado.
Na 2a Leitura (Romanos 8,18-23), São Paulo nos ensina que toda a criação, na linguagem do Apóstolo “está gemendo como que em dores de parto” na expectativa do cumprimento pleno das Promessas de Deus. Vivemos neste mundo em um combate, uma luta intensa para que, ao final, se realizem plenamente as Promessas de Deus. É preciso perseverar.
Ver e ouvir é muito importante para um discípulo de Jesus. Enquanto vivemos na terra, somos chamados a ouvir e acreditar.
É desta escuta que a fé nasce, se alimenta e se fortalece. Bem-aventurados os que creem sem ver.
A Palavra proclamada e escutada com atenção traz consigo a conversão, se o coração se abrir para a Graça de Deus.
Somos terra, como nos diz o Evangelho (Mateus 3,1-23). Terra que pode ser dura, que pode ser superficial, que pode ser cheia de espinhos. Quando a Palavra de Deus, que é uma semente boa, não produz autênticos frutos de vida nova, a causa não é a semente. A frustração de uma boa semente que não cresce é devida às más condições da terra.
Nós temos que ser realistas. Por que a palavra de Deus tantas vezes não produz fruto, não nos fortalece, não nos faz crescer na fé e na vida? Certamente é porque não somos boa terra. Permitimos a preguiça, a falta de disponibilidade para com Deus, a ignorância devida à ausência e descuido com o aprendizado, a pouca oração e o precário arrependimento.
Participar da Missa deve significar o desejo sincero de acolher, como boa terra, a semente da Palavra viva, capaz de frutificar abundantemente e saciar nossa fome de Deus.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen