Espiritualidade no Centro da Educação
O ser humano é multifacetado, composto por diversas dimensões que o tornam ao mesmo tempo especial e enigmático. Insondável, insatisfeito e ciente de que não se basta. Aberto ao totalmente “outro”, debate-se na ânsia de entender-se, ou ao menos encontrar caminhos que o ajudem a desfazer-se das sensações de deslocamento e vazio.
Alguns antropólogos dedicaram-se a estudar tomisticamente o ser humano, desvendando-o parte por parte, com a intenção de definir o que é essencial, o que o caracteriza e distingue dos outros seres. Assim, vimos surgir os defensores da racionalidade, da linguagem, da genética e de tantas outas linhagens que tornam nossa espécie sui generis.
Por certo, tudo o que conseguimos expressar sobre nós e os outros está sempre aquém do que somos, ou melhor, do que somos capazes. Não temos a menor ideia do que poderíamos realizar, caso tivéssemos a oportunidade de habitar por mais tempo este planeta. A vida é curta e urge fazer boas escolhas para não descobrirmos, ao final da jornada, termos passado por aqui em vão ou, quem sabe, mediocremente.
O grande Zigmunt Bauman, ateu confesso, afirmou ao final de sua vida que Deus é necessário, pois o homem sabe-se insuficiente. O ser humano não se basta. Há sempre um limite e daí não passamos. Não conseguimos explicar racionalmente muitas coisas e, por isso mesmo, precisamos da fé, que é o que nos permite ter esperança, projetar-nos e tirar a sensação de absurdo de uma vida que vai do nada para lugar nenhum.
Ao mesmo tempo em que alguns discutem a necessidade, a laicidade do estado e tantas outras teorias em torno do Ensino Religioso na escola, vamos nos movendo em uma realidade complexa e obscura, pois tiramos o lugar de Deus em nossa vida e não encontramos algo que O equivalha. Não sabemos o que pôr em seu lugar. Ao esquecer-se de suas origens, o homem perde também o horizonte e as referências. Por onde andar? O que buscar? O que são valores para mim, para nós?
No areópago atual não precisamos pintar tudo da mesma cor. Nem mesmo podemos acomodar-nos repetindo o que fizemos até aqui, por medo de errar. Bastaria uma breve, mas atenciosa reflexão sobre o que nos move, qual nossa proposta em torno da formação humana, em que somos verdadeiramente especialistas? Talvez nunca na história tenhamos tido tanta oportunidade de voltar às fontes, de firmar nossas propostas pedagógicas em currículos iluminados pelo evangelho, auscultando o Mestre dos mestres: Jesus. É necessário sensibilidade diante da pedagogia de Deus que acolhe a vida, protege-a e inclina-se diante dos caídos, que foram machucados por tantas situações que nos são bem conhecidas. É QUESTÃO DE VIDA OU MORTE COLOCAR A ESPIRITUALIDADE NO CENTRO DE NOSSAS PROPOSTAS EDUCATIVAS.
Não são poucas as iniciativas em torno de uma educação cristã, embasada no evangelho, na fraternidade e no cuidado da vida e da casa comum. O que é pouco, sinceramente, é a adesão, a ousadia de transbordar os parâmetros a que estamos acostumados ou acomodados. Que força incrível teríamos se nos uníssemos para pensar e efetivar uma proposta cristã de formação humana num país continental! Que tal começarmos?! Há uma geração esperando por nós.
Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade