“Esta obra não é minha, é de Deus!”
Entrevista com Maria Rita, sobrinha de Irmã Dulce e Superintendente de suas obras sociais.
Padre Arnaldo Rodrigues – Cidade do Vaticano
O Vatican News conversou com a sra Maria Rita de Souza Brito, sobrinha da irmã Dulce e superintendente de suas obras desde o seu falecimento. Ela nos contou um pouco sobre a vida de Irmã Dulce e de sua obra.Maria Rita, sobrinha de Ir. Dulce
Obras Sociais Irmã Dulce
As Obras Sociais Irma Dulce, por ela fundadas há exatamente 60 anos, tem como missão amar e servir aos mais necessitados. Essa obra, essa instituição é uma das mais importantes no Brasil, no atendimento a pessoas carentes: pessoas que não possuem plano de saúde e que não têm condições de pagar um atendimento particular.
“A obra atende mais de 2000 pessoas por dia, somente no seu ambulatório. Temos 954 leitos e além do atendimento na saúde, no hospital e no ambulatório, temos também mais 19 nucleos de atendimento, praticamente todos na saúde. Atendemos também a idosos, pessoas com deficiência, pacientes alcoolistas e moradores de rua”.
Na educação, temos uma escola em tempo integral, que atende 750 crianças e jovens. Em um turno, estudam o ensino fundamental, outro, frequentam oficinas pedagógicas e profissionalizantes.
• A OSID abriga um dos maiores complexos de saúde 100% SUS do país;
• 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais são realizados por ano na Bahia;
• 2 mil pessoas são atendidas diariamente na sede das Obras, em Salvador;
• 954 leitos hospitalares no complexo da entidade;
• 18 mil internamentos e 12 mil cirurgias realizadas anualmente em Salvador;
• Mais de 11,5 mil pessoas atendidas por mês para tratamento do câncer;
• 150 bebês com microcefalia são acompanhados hoje na OSID;
• 1,7 milhão de refeições são servidas por ano para nossos pacientes;
• 750 crianças e adolescentes são atendidos no Centro Educacional da instituição;
• Mais de 4 mil profissionais atuam na organização, sendo mais de 2 mil
O Milagre
O grande milagre de Irmã Dulce, na opinião de quem trabalha e de quem conhece as obras, é exatamente a sua obra. Como com tantas dificuldades, vivendo de parcos recursos que são repassados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nós conseguimos com as doações manter todo esse complexo em funcionamento. É como ela dizia: “Esta obra não é minha, é de Deus, e o que é de Deus permanece para sempre.” Essa é uma das grandes verdades.
Outra frase que repetia muito ao pedir ajuda “é que quando cada um faz um pouco, o pouco de muitos se soma.” Também agente presencia isso diariamente nas suas obras, a ajuda de pessoas que muitas das vezes não têm um recurso para se manter, mas fazem questão de doar alguma coisa para as obras. Esse pouco se soma e colabora para que sua obra se mantenha viva e crescendo sempre. A obra nunca parou de crescer ao longo destes 60 anos. Hoje temos o orgulho de dizer que atendemos pacientes com câncer, dando assistência integral. Esse é um outro milagre das obras de Irmã Dulce.
Irmã Dulce
Uma das características de Irmã Dulce era a sua persistência, a sua fé, uma fé obstinada em Deus, não uma fé oscilante, mas uma fé muito firme em Deus. Era uma pessoa que tinha muito bom humor, era alegre como o Papa Francisco. Ela não desanimava e não se entristecia diante dos problemas. Tinha sempre uma palavra de carinho e de conforto, e de ânimo para todos nós.
Se ela estivesse hoje aqui, diria especialmente para os jovens que vivessem o amor, ajudando uns aos outros. Diria:
“ Que se colocassem sempre no lugar do outro. Isso vale para todos nós, que saibamos nos colocar no lugar do outro. E quando ajudar o próximo, não é so dar uma esmola, eles querem as vezes mais do que um “dinheirinho”, eles querem uma palavra de conforto, um carinho e serem ouvidos. ”
É isso que buscamos fazer diariamente nas suas obras: viver acolhendo ao próximo que bate a nossa porta, procurando ouvi-lo, consola-lo e nao apenas dando assistência na educação. É assim que a gente consegue transformar muitas vidas e pensar como ela faria se estivesse aqui.
Muito obrigada e abraço a todos.
Conheça um pouco mais das Obras Sociais de Irmã Dulce*
Instituição filantrópica de fins não econômicos, as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) abrigam atualmente um dos maiores complexos de saúde com atendimento 100% gratuito do Brasil, com mais de 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), entre idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, pacientes oncológicos, crianças e adolescentes em situação de risco social, dependentes de substâncias psicoativas e pessoas em situação de rua.
Fundada em 26 de maio de 1959, por Irmã Dulce, a organização conta com um perfil de serviços único no país, distribuídos em 21 núcleos que prestam assistência à população de baixa renda nas áreas de Saúde, Assistência Social, Pesquisa Científica, Ensino em Saúde, Ensino Fundamental e na preservação e difusão da memória de sua fundadora. A entidade é reconhecida como instituição de utilidade pública nos âmbitos municipal, estadual e federal e cadastrada no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).
A OSID é fruto da trajetória de amor e serviço da religiosa baiana, conhecida como o Anjo Bom do Brasil, que peregrinou durante mais de uma década em busca de um local para abrigar pobres e doentes recolhidos das ruas de Salvador. As raízes da instituição datam de 1949, quando Irmã Dulce, sem ter para onde ir com 70 doentes, pediu autorização a sua superiora para abrigar os enfermos em um galinheiro situado ao lado do Convento Santo Antônio, na capital baiana. O episódio fez surgir a tradição de que o maior hospital da Bahia nasceu a partir de um simples galinheiro.
Números
Instalada em Salvador, no Largo de Roma (Cidade Baixa), está hoje a sede das Obras Sociais Irmã Dulce. O local, também conhecido como Complexo Roma, abriga atualmente, em seus 40 mil metros quadrados de área construída, 20 dos 21 núcleos da entidade, incluindo um total de 954 leitos hospitalares, para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas.
Desses núcleos, 19 apresentam atuação na Saúde, a exemplo do Hospital Santo Antônio, do Centro Geriátrico, Hospital da Criança, Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência, Centro Especializado em Reabilitação e do Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas, entre outros.
No Complexo Roma, são contabilizados por ano 2 milhões de atendimentos ambulatoriais – quase metade do total alcançado por toda a organização no estado. Ainda na sede das Obras Sociais, local que atende diariamente cerca de 2 mil pessoas, são realizadas por ano 12 mil cirurgias, além de 18 mil internamentos. Atualmente, mais de 4 mil profissionais trabalham na organização, sendo mais de 2 mil funcionários somente no complexo da capital baiana, local onde atuam ainda 320 médicos e 125 voluntários.
A atenção integral, multidisciplinar e humanizada é uma das características do atendimento prestado pelas Obras Sociais Irmã Dulce. São ações que cobrem todo o espectro da assistência à saúde e que incluem atenção básica, 36 especialidades médicas, exames laboratoriais e de bioimagem, internação, cirurgias de alta complexidade e reabilitação. Destaque também para o Centro de Pesquisa Clínica e o Centro de Ensino e Pesquisa Professor Adib Jatene, unidades dedicadas às áreas de Pesquisa e Ensino em Saúde. Como hospital escola, a OSID oferece ainda internato de Medicina e 18 programas em residências médicas, além da Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde do Idoso e Residência em Odontologia.
Unidades Externas
Além dos 21 núcleos pertencentes à instituição, a OSID atua ainda na gestão de unidades externas de saúde, sendo responsável hoje pela administração de três complexos públicos, todos localizados na Bahia e vinculados ao Governo do Estado: Hospital do Oeste (Barreiras), Hospital Eurídice Sant’anna (Santa Rita de Cássia) e Hospital Regional Dr. Mário Dourado Sobrinho (Irecê).
A entidade responde também pelo Centro de Convivência Irmã Dulce dos Pobres, localizado no Centro Histórico de Salvador, que tem como foco a assistência às pessoas em sofrimento psíquico e em vulnerabilidade social, incluindo usuários de substâncias psicoativas e pessoas em situação de rua, além do atendimento às famílias residentes no bairro e clientes referenciados pela rede SUS.
Para manter viva esta grande obra, a OSID conta com recursos do Sistema Único de Saúde e de convênios com organismos estatais, além de doações e venda de produtos. Fiel à missão herdada de Irmã Dulce, “Amar e Servir”, a organização ampliou seu alcance e se profissionalizou sem abrir mão de seus valores. Sua gestão é estruturada com base no Planejamento Estratégico e acumula prêmios e certificações como a ISO 9001:2008 (referência nacional para a certificação de sistemas de Gestão da Qualidade), Bem Eficiente, Top Social e Rainha Sofia.
O Santuário
Logo após sua morte, Irmã Dulce foi sepultada na Igreja da Conceição da Praia, em Salvador. Em 2000, com o início do processo de Beatificação da religiosa, seus restos mortais foram então transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, no Largo de Roma. Uma década depois, no dia 09 de junho de 2010, os restos mortais da freira foram transladados para a Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus – hoje conhecida também como Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, localizado ao lado da sede das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID).
No interior do santuário, em um espaço chamado Capela das Relíquias, está o túmulo que guarda as relíquias (termo utilizado para designar o corpo ou parte do corpo de beatos ou santos) da Mãe dos Pobres. A transferência foi feita após a exumação do corpo da religiosa para a retirada das suas relíquias e de uma vigília. Espaço de devoção e fé, a Capela das Relíquias está aberta à visitação de fiéis e demais admiradores da vida e obra do Anjo Bom.
A Canonização
O Papa Francisco promulgou o decreto que reconhece o segundo milagre atribuído à intercessão de Irmã Dulce, cumprindo-se assim a última etapa do processo de Canonização da beata baiana. A freira, conhecida como o Anjo Bom da Bahia, se tornará a primeira santa nascida no Brasil e sua canonização será a terceira mais rápida da história (27 anos após seu falecimento), atrás apenas da santificação do Papa João Paulo II (9 anos após sua morte) e de Madre Teresa de Calcutá (19 anos após o falecimento da religiosa).
O segundo milagre validado pelo Vaticano passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os estágios. Uma graça só é considerada milagre após atender a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural (não explicado pela ciência).
O arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, disse que no próximo mês de julho deve acontecer o consistório, evento no qual o Papa anuncia o reconhecimento de novos santos, ocasião em que deve ser divulgada a data da canonização de Irmã Dulce, que passará a ser chamada Santa Dulce dos Pobres. O segundo milagre atribuído à Mãe dos Pobres reconhecido pelo Vaticano é a cura da cegueira de um homem.
* Fonte: Assessoria de Comunicação Obras Sociais Irmã Dulce (OSID)