Estender a mão
“Estende tua mão ao pobre” (Eclo 7,32). A vivência do IV Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco, nos faz “olhar para o essencial e superar as barreiras da indiferença”. Oração cristã e solidariedade são expressões complementares de uma mesma realidade de fé. “É preciso reconhecer que toda a pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus” (Francisco, n.2). Portanto, todos são dignos e ninguém pode ser descartado, na grande família que formamos. “A generosidade que apoia o vulnerável, consola o aflito, mitiga os sofrimentos, devolve dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana” (Francisco, n. 3). Há muita alegria na mão que sabe se estender a quem precisa, fonte de felicidade. Trata-se de “comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina” (Francisco, n. 3).
Este ano, no qual vivemos a pandemia do COVID 19, chegou de improviso e a todos nós tomou de surpresa. Toda a humanidade sentiu-se mais pobre, mas vulnerável, sem as seguranças que até então tinha, sobretudo nas condições econômicas. As grandes crises, que estavam latentes, irão continuar “enquanto permitirmos que permaneça em letargo a responsabilidade que cada um deve sentir para com o próximo e toda a pessoa” (Francisco, n. 7). No entanto, ainda que não tenhamos conseguido aprofundar o suficiente as causas desta grande crise, vimos como foi importante “abrir as mãos”. “A mão estendida ao pobre não chegou de improviso. […] Não nos improvisamos instrumentos de misericórdia” (Francisco, n. 7).
Quando estendemos a mão, chamados à responsabilidade, sentimo-nos parte do mesmo caminho, do mesmo destino, da única vida que Deus nos deu, como graça infinita. Abrir a mão é “um sinal” de corresponsabilidade humana, mais do que uma ajuda, simplesmente. “Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas! A mão estendida do médico que se preocupa de cada paciente, procurando encontrar o remédio certo. A mão estendida da enfermeira e do enfermeiro que permanece, muito para além dos seus horários de trabalho, a cuidar dos doentes. A mão estendida de quem trabalha na administração e providencia os meios para salvar o maior número possível de vidas. A mão estendida do farmacêutico exposto a inúmeros pedidos num arriscado contato com as pessoas. A mão estendida do sacerdote que, com o coração partido, continua a abençoar. A mão estendida do voluntário que socorre quem mora na rua e a quantos, embora possuindo um teto, não têm nada para comer. A mão estendida de homens e mulheres que trabalham para prestar serviços essenciais e segurança” (Francisco, n. 6).
Somente com as mãos estendidas o ser humano é verdadeiramente humano e cristão. Lembremo-nos de nosso fim, para o qual Deus nos criou, o amor. “Este amor é partilha, dedicação e serviço, mas começa pela descoberta de que primeiro fomos nós amados e despertados para o amor” (Francisco, n. 10). Infelizmente, vemos “a atitude de quantos conservam as mãos nos bolsos e não se deixam comover pela pobreza, da qual frequentemente são cúmplices também eles. A indiferença e o cinismo são o seu alimento diário. Que diferença relativamente às mãos generosas que acima descrevemos!” (Francisco, n. 9). De fato, as mãos se estendem quando o coração é aquecido pela proximidade e pela Palavra.
Dom Adelar Baruffi – Bispo Diocesano de Cruz Alta