Eu chamo vocês de amigos!

 

As comunidades cristãs católicas celebram, no último domingo de outubro, o Dia Nacional da Juventude. Este evento, celebrado há várias décadas, tem o objetivo de despertar as comunidades e lideranças eclesiais para a necessidade de entregar às novas gerações o Evangelho como um caminho de felicidade e realização humana.

Quem já viveu esta fase de transição chamada juventude conhece por experiência as tensões que a caracterizam: a força do sonho ameaçada pelo escuro do medo; a insatisfação com o passado questionada pela incerteza sobre o futuro; o desejo de liberdade ferido pela chaga da dependência; a rejeição das instituições pressionada pela necessidade da segurança; enfim: a dor e a delícia de ser sujeito de si mesmo.

O tema de reflexão e celebração do Dia Nacional da Juventude de 2024 é uma afirmação afetuosa de Jesus ao grupo de discípulos e discípulas que haviam se encantado com sua proposta de vida, mas estavam cercados de medos e incertezas, especialmente depois que Jesus avia anunciado o que seria perseguido, denunciado, condenado e executado.

Depois de assegurar seu compromisso de dar a vida de forma generosa e livre para que todos os seres humanos vivam plenamente, Jesus partiu com eles pão e serviu vinho, dizendo que esse gesto era o selo de uma aliança insuperável com seus amigos. E completou o sentido do gesto e das palavras tomando nas mãos jarra e toalha e lavando os pés de todos, como se fosse um escravo.

Seu gesto e suas palavras desconcertaram profundamente aquele grupo de jovens, ainda queimados pelo desejo de segurança e sucesso. E Jesus sentiu a necessidade de prolongar o diálogo com eles noite adentro. É nesse clima de tensão e amizade, de cumplicidade que caracteriza as relações mais profundas, que ele diz que os quer como amigos, e não como empregados ou adoradores; que os amigos verdadeiros dão a vida uns pelos outros.

Ora, essa afirmação alvissareira se dirige também a vocês, jovens de hoje. Jesus não nega nada daquilo que vocês são e buscam, daqueles valores humanos que não se resumem à moda da estação. Ele propõe um caminho de felicidade verdadeira, que não se desfaz com o sol que fere os olhos depois de uma noite de balada.  Ele não lhes subtrai nada que seja realmente precioso, e lhes oferece o melhor para alcançar uma vida que valha a pena.

Que nossas comunidades cristãs se deixem interpelar a frase de Jesus que inspira o Dia Nacional da Juventude. Como Jesus, tenhamos confiança nas novas gerações, dediquemos a ele nossa atenção, tratemos os jovens como amigos e amigas, e não como pessoas imaturas e incômodas. Sem as novas gerações, nossas comunidades perdem a capacidade de sonhar e de inovar, e correm o risco de decair num pessimismo doentio que tem pouco a ver com a fé em Jesus Cristo.

 

Dom Itacir Brassiani, msf – Bispo de Santa Cruz do Sul