“Eu quero: fica curado!”
O encontro de um leproso com Jesus e de Jesus com o leproso é a fonte da oração e da reflexão dominical (Levítico 15,1-2.44-46, Salmo 31, 1 Coríntios 10,31-11,1 e Marcos 1,40-45). É necessário compreender a legislação da época sobre os leprosos para entender a ação de Jesus. “Se o homem estiver leproso é impuro, e como tal o sacerdote o deve declarar. O homem atingido por este mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: “Impuro! Impuro!” Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento”.
A descoberta do tratamento da lepra, hoje denominada de hanseníase, é recente. Antes disso, o único tratamento adotado para a doença era o isolamento. Já se sabia que a doença era contagiosa. Em 2020, quando o coronavírus começou a espalhar-se rapidamente pelo mundo a primeira medida sanitária foi o isolamento das pessoas, pois o vírus era altamente contagioso. Ao drama da doença, seja a hanseníase do passado ou do covid-19 recente, se acrescenta o drama isolamento e a ruptura das relações com o mundo, os familiares, os amigos, as orações comunitárias e a suspensão das atividades coletivas.
No contexto antigo da lepra se acrescentava uma conotação religiosa. O leproso não era somente um doente, mas era um pecador, um impuro, um rejeitado. Portanto, a doença adquiria uma conotação moral. Se o isolamento era necessária uma medida sanitária para proteger os outros, nem sempre as pessoas tratavam os leprosos neste nível gerando discriminações e condenações sumárias. Basta recordar como foram vistos os primeiros infectados pelo vírus da covid-19. Quantos julgamento recaíram, principalmente, sobre os primeiros infectados: “não usou máscara”, “não ficou em casa”, “fez festa”, “foi na Igreja”, etc…
A forma como acontece o encontro do leproso com Jesus e de Jesus com o leproso é iluminador para qualquer situação “delicada”. Não é uma receita pronta, mas um encontro pautado pela misericórdia. O encontro foge das regras previstas. O movimento do encontro envolve a ambos e é um encontro físico e espiritual. O leproso se aproxima e de joelhos diz: “se queres” e recebe como resposta de Jesus “eu quero”. O leproso manifesta um profundo respeito e uma delicadeza com Cristo. Respeita-se a liberdade de ambos. Na aproximação física e espiritual acontece a cura física e a reintegração na sociedade do leproso.
“Cremos na potência do contágio. Se existe aquele negativo, que infecta e destrói, existe aquele positivo, que constrói. Faz que o outro perceba que não é um rejeitado nem isolado, mas um homem feito à imagem de Deus, chamado a uma vocação de nobreza que se chama santidade. Ele tem necessidade que além lhe diga, com as palavras e com os gestos, com o coração e com a vontade de “fazer-se próximo”, isto é vizinho. Agora podemos ver repetir-se o milagre de um contágio que salva” (Mauro Orsatti).
No dia 11 de fevereiro se celebra o “Dia mundial do Doente”. A mensagem do papa para este dia traz como título: “Não é conveniente que o homem esteja só”. Cuidar do doente, cuidando das relações. Toda mensagem convida a fazer-se próximo dos doentes como Jesus fez. “Irmãos e irmãs, o primeiro cuidado de que necessitamos na doença é uma proximidade de compaixão e ternura. Por isso, cuidar do doente significa, antes de mais nada, cuidar das relações, de todas as suas relações: com Deus, com os outros – familiares, amigos, profissionais de saúde -, com a criação, consigo mesmo. É possível. Sim; e todos somos chamados a empenhar-nos para que tal aconteça”.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo