Expulsar ‘demônios’ – É necessário?
Jesus e o seu Abbá – no Evangelho dominical
Sei, ó Abbá, que faz parte da minha missão de fazer irromper o Reino de Deus a expulsão de demônios. Claro, como fazer irromper o Reino de Deus com a presença de demônios? Eles são o anti-reino do nosso Reino. Aliás, o primeiro sinal da presença do Reino de Deus é ter a capacidade de expulsar os demônios. Não por nada, que no final do Evangelho de Marcos, antes de voltar a Ti, Abbá, quando explícito a missão dos apóstolos de anunciar o Evangelho a todos os povos, deixo claro que, dos quatro sinais que acompanharão a evangelização, o primeiro é “a expulsão dos demônios em meu nome”.
Ó Abbá, mas está sendo necessário que eu deixe claro aos meus discípulos de todos os tempos, que os “demônios” não são algo abstrato, e sim, algo bem concreto. Os “demônios” são todas as forças internas e externas da humanidade que operam contra o Reino de Deus. São forças anti-Reino de Deus: a injustiça, a mentira, a corrupção, a indiferença, a prepotência… enfim, a idolatria do egoísmo. Reino de Deus é união e vida. Reino dos “demônios” é desunião e morte!
A propósito, no Evangelho dominical, o discípulo muito próximo de mim, João, achegou-se e me disse: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em seu nome”. Visto isso, achamos que nós deveríamos proibi-lo. A razão da proibição é: “porque ele não nos segue”. A princípio, a ação dos discípulos parecia certa, porém, eu tive que assim reagir: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor”. E ainda acrescentei este ensino: “Em verdade eu vos digo: quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. Assim, os discípulos tiveram que entender que a expulsão do anti-Reino de Deus não é algo restrito. Quantas realidades anti-Reino de Deus devem ser expulsas e por todos? Toda força contrária ao Reino de Deus deve ser somada. Toda força a favor do Reino de Deus torna-se sinal de esperança.
A partir desse ensino da irrestrita ação de expulsão dos “demônios” por todos, ó Abbá, senti que havia abertura dos discípulos para uma chamada de atenção: todos nós sempre devemos estar prontos e abertos para o Reino de Deus. Não podemos nos iludir que algo “demoníaco” já não nos atinge mais. Com quatro afirmações parabólicas fui admoestando a todos:
Primeira afirmação: “Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrado ao pescoço”. Portanto, todo o cuidado com o escândalo do contra-testemunho do Reino de Deus. Aqui, a criança é sinônimo da presença do Reino de Deus. Como ousar escandalizar uma “criança”?
Segunda afirmação: “Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na vida sem uma das mãos, do que, tendo duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga”. Portanto, todo o cuidado com o pecado da não-acolhida do Reino de Deus. Aqui, as mãos são sinônimo da comunhão do Reino de Deus. Como ousar fechar as “mãos”?
Terceira afirmação: “Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno”. Portanto, todo o cuidado com o pecado da não-missão de construir o Reino de Deus. Aqui, os pés são sinônimo da missão do Reino de Deus. Como ousar impedir os “pés”?
Quarta afirmação: “Se teu olho te levar a pecar, arranca-o”! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga”. Portanto, todo o cuidado com a visão errônea do Reino de Deus. Aqui, os olhos são sinônimo da visão correta do Reino de Deus. Como ousar deturpar e manipular os “olhos”?
Ó Abbá, eu te peço que os meus discípulos sempre tenham a coragem de expulsar os “demônios”, e assim, tenham todo o cuidado com o testemunho, com acolhida, com missão e com a visão correta do Reino de Deus. Amém!
Dom Jacinto Bergmann – Arcebispo de Pelotas