Fantasia e realidade

É tempo de carnaval. Neste final de semana, as escolas de samba, os foliões e baterias, com o colorido das fantasias e o brilho da purpurina, se fazem presentes nas avenidas e ruas de muitas cidades do Brasil. É uma festa que trás presente as expressões das várias realidades culturais do povo deste nosso imenso país. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para mostrar a riqueza das manifestações culturais que nasceram da miscigenação de raças e povos que formam a nação brasileira.

O turista, que vem de outros recantos do planeta, talvez possa ficar vislumbrado com o brilho das fantasias, a imponência dos carros alegóricos, o sorriso e a alegria estampados no rosto dos passistas que, ao som dos tambores, cuícas, pandeiros e tamborins, mostram, no gingado do corpo e na destreza dos pés, suas habilidades em seguir a cadência do samba na passarela da avenida.

Mas, ao mesmo tempo, quem vem de fora pode ficar chocado pelo nosso contraste social, vendo os barracos desalinhados e mal acabados, nos morros e fundos de vale, onde vivem milhões de pessoas no nosso querido Brasil. Essa realidade social, incorporada à paisagem urbana das nossas pequenas, médias e grandes cidades, se agrava com a indiferença das políticas públicas, e exige que essas deem continuidade, a curto, médio e longo prazo, a um processo de saneamento básico e de moradia, que proporcionem melhores condições de vida às pessoas que vivem nessas realidades.

Que o nosso querido país possa ser lembrado no mundo pela dimensão do seu território, pelas florestas e rios, pela beleza de suas praias, pelas riquezas naturais que repousam no seu solo, pela miscigenação das raças que formam o seu povo, pela sua capacidade tecnológica de transformar as matérias primas em bens de consumo, pela força inovadora do seu parque industrial, pela sua capacidade de preparar os jovens para o mercado de trabalho e ter um programa de desenvolvimento sustentável para gerar novos empregos, por políticas públicas de inclusão social, pelo espírito de fé do seu povo, pelo cuidado da Casa Comum, além da criatividade e o colorido das fantasias do carnaval.

Que possamos sonhar acordados com um futuro melhor para todos os brasileiros. Um futuro que poderá ser conquistado com educação de qualidade para todos, oportunidades de trabalho, ética na administração do bem comum, espírito de solidariedade e responsabilidade por parte de todos os cidadãos que fazem parte da sociedade brasileira. Que os nossos sonhos de um país melhor, que ofereça oportunidades e condições dignas de vida para todos, não seja uma fantasia de carnaval deixada de lado na quarta feira de cinzas.

Dom José Gislon – Bispo de Caxias do Sul