Fé, dom que ilumina

Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta

Caminhamos, com Jesus, para a Páscoa. Com o olhar fixo nele, com ouvidos atentos à sua Palavra e com o coração generoso para a caridade, renovamos e aprofundamos nossa fé batismal. No Prefácio do quarto domingo da Quaresma, quando se lê a passagem da cura do cego de nascença (Jo 9,1-40), rezamos assim: “Pelo mistério da encarnação, Jesus conduziu à luz da fé a humanidade que caminhava nas trevas. E elevou à dignidade de filhos e filhas os escravos do pecado, fazendo-os renascer das águas do Batismo.”

O encontro do cego de nascença com Jesus, curando sua cegueira, é imagem do batismo, de Cristo que é “luz do mundo” (Jo 9,5). “Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas” (Jo 12, 46), disse Jesus. De fato, o batismo é uma “iluminação”, pois “quem acredita, vê; vê com uma luz que ilumina todo o percurso da estrada, porque nos vem de Cristo ressuscitado, estrela da manhã que não tem ocaso” (LumenFidei, 1). A vida cristã, de batizados, exige deixar-se iluminar. Jesus, com o cego de nascença, percorreu um caminho, conduzindo-o a professar sua fé: “Eu creio, Senhor” (Jo 9,38). Outra passagem do Evangelho, a cura do cego de Betsaida, ilustra de maneira ainda mais clara este caminho de iluminação, pois o que era cego, primeiro enxergava de maneira imperfeita, “homens como árvores andando” (Mc 8,24) e, depois, “distinguia tudo com clareza” (Mc 8,25). Isto sinaliza que o dom da fé não é uma aquisição definitiva e pronta, mas necessita de ser constantemente alimentada. É um caminho para toda nossa vida, na atenta e humilde escuta da Palavra.

Num mundo de tantas trevas, o cristão, iluminado por Cristo, é chamado a ser “sal da terra” e “luz do mundo”. Não falta quem, guiado pela mentalidade iluminista racionalista, queira relegar a fé a algo meramente interior, sentimental, um salto no escuro naquelas situações aonde a “luz” da razão ainda não conseguiu iluminar. Sabemos que fé e razão não se excluem, mas dialogam e se completam. Porque iluminado por Cristo, o cristão descobre a verdade sobre si mesmo, encontrando o sentido de uma vida amada para amar e fazer o bem. “Um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro” (Lumen Fidei,4). Submetemos ao olhar da fé as interrogações e dúvidas. Encontramos no olhar misericordioso de Jesus Cristo o modelo para aproximar-se com compaixão dos sofredores. Descobrimos na vida e ensinamento de Jesus Cristo “pontos firmes” para a construção de uma sociedade fraterna. Projetamos luz sobre o lugar e a missão do ser humano no mundo, como guardião e cuidador da obra da criação (cf. Gn 2,15). Sem dúvidas, precisamos de testemunhas, de pessoas que foram iluminadas e que ajudem a apontar o caminho. Mais do que defensores de verdades, somos convidados a narrar nossas humildes experiências de sermos iluminados por Cristo.

“A fé não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto basta para o caminho”(LumenFidei, 56). A fé não tem a pretensão de encontrar todas as explicações e nem responder a todas as perguntas, mas nutre uma confiança inabalável na presença e companhia de Deus no caminho de nossa existência, em nossa família e na história da humanidade.

 

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