“Aumenta a nossa fé!” é o pedido que os apóstolos dirigem ao Senhor. Por isso, os textos bíblicos da liturgia dominical (Habacuc 1,2-3;2,2-4; Salmo 94, 2 1,6-8.13-14 e Lucas 17,5-10)) falam da fé, que é o fundamento de toda a vida cristã. Jesus educou os seus discípulos para acreditar e confiar cada vez mais nele, a fim de edificar a própria vida sobre ele. Os apóstolos, conscientes de suas fragilidades e inconstâncias, pedem: “aumenta a nossa fé!” É um bonito pedido que eles dirigem ao Senhor, é o pedido fundamental. Em outras oportunidades os apóstolos tinham outros pedidos, mas agora já mais evangelizados e próximos de Jesus não pedem bens materiais, nem privilégios, mas sim a graça da fé, que oriente e ilumine toda a vida. Pedem a graça de reconhecer Deus e de poder estar em íntima relação com Ele, recebendo dele todos os seus dons, inclusive os da coragem, do amor e da esperança.

Jesus não responde diretamente à oração dos discípulos. Recorre a uma parábola para expressar a incrível vitalidade fé, mesmo que seja pequena, é capaz de realizar coisas impensáveis e extraordinárias. Ilustra a parábola com a imagem da amoreira que poderia, pela fé, ser transplantada da terra para o mar.

Os textos da Escritura convidam a aprofundar o que a Igreja ensina sobre fé. Lumen Fidei – A luz da fé – é a primeira Carta Encíclica do Papa Francisco (29/06/2013). Ela faz parte das três cartas iniciadas por Bento XVI que refletem sobre as virtudes teologais da caridade, da esperança e da fé.  Também no ano de 2012 a Igreja celebrava o “Ano da Fé” lembrando os 20 anos da publicação do “Catecismo da Igreja Católica”. Recordo alguns ensinamentos da carta encíclica “A Luz do Fé”.

“A Luz da fé é a expressão com que a tradição da Igreja designa o grande dom trazido por Jesus” (n. 1). “A fé nasce do encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo” (n. 4).

“A fé cristã está centrada em Cristo: é a confissão de que Jesus é o Senhor e de que Deus o ressuscitou de entre os mortos (cf. Rom 10,9)”. (n. 15) Portanto, toda a fé cristã está centrada e fundamentada em Jesus Cristo, em tudo o que ele ensinou, realizou e, principalmente, nos fatos do Mistério Pascal. O apóstolo e evangelista São João experimentou uma grande proximidade com Jesus e ele usa de várias formas o verbo crer. “Juntamente com o “crer que” é verdade o que Jesus nos diz (cf. Jo 14,10; 20,31), João usa mais duas expressões: “crer a” (sinônimo de dar crédito a) Jesus e “crer em” Jesus. “Cremos a” Jesus, quando aceitamos sua palavra, o seu testemunho, porque Ele é verdadeiro (cf. Jo 6,30). “Cremos em” Jesus, quando O acolhemos pessoalmente na nossa vida e nos confiamos a ele, aderindo a Ele no amor e seguindo-o ao longo do caminho (cf. Jo 2,11; 6,47; 12,44)” (n. 18).

A Igreja é a mãe da nossa fé. O fiel crê aquilo que lhe foi transmitido pela Igreja. “Por isso mesmo, quem crê nunca está sozinho; e, pela mesma razão, a fé tende a difundir-se, a convidar outros para a sua alegria. Quem recebe a fé descobre que os espaços do próprio “eu” se alargam, gerando-se nele novas relações que enriquecem a vida. Tertuliano ensina que o batizado é recebido em uma nova família “depois do banho do novo nascimento”, é acolhido na casa da Mãe para erguer as mãos e rezar, juntamente com os irmãos, o Pai Nosso” (n. 39).

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo