Festejar é também comprometer-se
O mês de setembro é marcado pelas festividades da Pátria e, no Rio Grande do Sul, pelas celebrações da Semana Farroupilha, durante a qual se recordam os líderes da Revolução Farroupilha e os princípios da liberdade, da igualdade e humanidade.
Estas festividades permitem resgatar elementos importantes da vida em sociedade. “Um país cresce quando dialogam, de modo construtivo, as suas diversas riquezas culturais (…). É impossível imaginar um futuro para a sociedade sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que permaneça fechada na pura lógica ou no mero equilíbrio de representações de interesses constituídos” (Papa Francisco).
Causa apreensão o surgimento de discursos marcados por intolerância que difamam e estigmatizam grupos sociais historicamente discriminados: indígenas, quilombolas, novos migrantes, negros, pobres. Não faltam sinais preocupantes de uso da linguagem para difamar ou excluir pessoas, de tratamento da Casa Comum como lugar de recursos a serem explorados, não importando as consequências para os ecossistemas, de promoção da desigualdade social, de violência agrária, de prepotência da economia sobre a população.
As diversas crises do presente requerem o resgate e a promoção da ética na atividade social e política. Não se pode compactuar com comportamentos subjetivos desviantes, como o clientelismo de expressões do setor público, a evasão fiscal, a indiferença com relação a quem promove o tráfico de entorpecentes, a ação de grupos que agem à margem do Estado (milícias) e a facilitação do acesso à armas pela população. Além disso, preocupa a situação do mercado de trabalho que vai da redução dos empregos à persistência de salários indecentes para amplos setores. Preocupa ainda a crise ambiental marcada por responsabilidades estruturais e de indivíduos devido ao consumo descontrolado de recursos.
O atual momento histórico interpela a todos a um profundo discernimento dos princípios e dos valores culturais, éticos e morais que estão na base da convivência social, exigindo “de todos, especialmente de governantes e representantes do povo, o exercício de uma cidadania guiada pelos princípios da solidariedade e da dignidade humana, assentada no diálogo maduro, corresponsável, na busca de soluções conjuntas para o bem comum, particularmente dos mais pobres e vulneráveis” (Pacto Pela Vida e Pelo Brasil – 07/07/2020).
Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da CNBB