Formar cristãos e cidadãos
Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta
Diante desta crise ética pela qual estamos passando no Brasil, nos perguntamos: qual nossa missão, como Igreja? Como construir caminhos de superação da corrupção, “esta praga putrefata da sociedade” (Papa Francisco, MisericordiaeVultus, 19) que assumiu tamanhas proporções? Quanto tempo ainda iremos conviver com as gritantes diferenças sociais, fonte primeira da violência em todos os níveis? Temos uma missão grande e nobre: formar cristãos e cidadãos, que estejam presentes em todos os âmbitos da sociedade como colaboradores da construção de relações familiares, comunitárias e sociais éticas, justas e solidárias. Isto não se dá automaticamente, mas é fruto de projetos e caminhos percorridos com determinação. O princípio apresentado pelo Vaticano II é verdadeiro: “Todo aquele que segue Cristo, o Homem perfeito, torna-se ele também mais homem” (GS 42).
Cremos, portanto, que o caminho é formar bons cristãos, verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, que se encantem por Ele e seu projeto do Reino de Deus, que queiram crescer continuamente num caminho de configuração de sua vida à dele, pessoas de fé madura. Precisamos nos empenhar decididamente no processo de iniciação à vida cristã, assumida pela nossa Diocese como “eixo integrador de toda a ação evangelizadora”. O cristão, vinculado a uma comunidade de fé, vai aprendendo o êxodo de si, do seu egoísmo, para assumir atitudes acolhedoras e viver a comunhão com outros. Pela meditação da Palavra, é continuamente questionado acerca da retidão de vida, do amor ao próximo e da compaixão com os sofredores. Aprende de Cristo que servir e doar-se pelo bem comum é realizador para a pessoa humana e expressão de gratidão a Deus pela sua infinita bondade.
Bons cristãos tendem a ser bons cidadãos, visto que não se pode separar fé e vida. Não existem separadamente. Sob a ótica da fé, aprendemos que a vida é dom de Deus e que o ser humano é imagem de Deus, sua maior dignidade. Por isso, toda vida humana é sagrada e deve ser defendida e promovida sempre, seja desde sua concepção à morte natural, bem como na organização social, com um olhar preferencial pelos mais sofredores. Pela fé em Jesus Cristo, aprendemos a ler a sociedade sob o olhar dos mais pobres e, assim, não promover luta de classes, mas a todos incluir. A Igreja tem uma profunda e madura reflexão sobre esta presença dos leigos e leigas na sociedade. A pior atitude é a indiferença ou a fuga da responsabilidade: “Os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política destinada a promover o bem comum” (São João Paulo II, CristifidelisLaici, n. 42). Assim, no mundo da política, é missão do cristão leigo iluminar a sociedade com os valores do Reino. A Doutrina Social da Igreja é um rico patrimônio, que devemos conhecer e aprofundar. A Igreja não adota um modelo social e político, mas oferece princípios que norteiam a organização social: a dignidade da pessoa humana, a primazia do bem comum, a destinação universal dos bens, a primazia do trabalho sobre o capital, a subsidiariedade e a solidariedade. As escolas cristãs de educação política, isentas de ideologias partidárias, são um importante espaço de formação de cidadãos.
Portanto, como nos diz o recente documento da CNBB sobre os “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade” (Doc. 105): “O cristão leigo expressa o seu ser Igreja e o seu ser cidadão na comunidade eclesial e na família, nas opções éticas e morais, no testemunho de vida profissional e social, na sociedade política e civil e em outros âmbitos. Busca sempre a coerência entre ser membro da Igreja e ser cidadão” (n. 165). Queremos formar cristãos maduros na fé e cidadãos coerentes com a fé e os valores que professam.