Imaculada, Cheia de Graça

 

Por ser Mãe de Jesus, o Deus feito Homem, Maria tem um contato único com a santidade de Deus. Este não é um privilégio de Maria, mas uma exigência e uma necessidade cristológica, isto é, Deus quis preparar para si uma Mãe que fosse digna Dele. Maria é totalmente santa, santíssima e imaculada. Ela não cometeu nenhum pecado pessoal, mais ainda, sua santidade é inicial e também original. Ela é a nova Eva.

Quando o anjo diz a Maria “o Senhor é contigo”, é como que o próprio Deus o dissesse: “Tu estás comigo, tu estás junto a mim”. Por ser plena de graça, em Maria se exclui toda desgraça, até aquela na qual todos nós nascemos, simplesmente por pertencer à humanidade assinalada pelo pecado.

Maria pertence plenamente ao povo redimido. Como todos nós, ela foi libertada do pecado e salva pela cruz e ressurreição de Cristo. Mas esta libertação nela não teve a forma de cura ou de purificação, mas de preservação. É aquela que foi resgatada na maneira mais perfeita pelo único Mediador entre o céu e a terra. Em relação à redenção, Maria está do nosso lado. Por uma razão cristológica, ela foi resgatada somente num modo diferente de nós. O que Cristo realizou nela para sua salvação pessoal já se realiza na sua concepção imaculada e na sua maternidade.

A graça sempre exige ser acolhida, como um presente que é dado e precisa ser recebido. A graça de Deus exige de nós uma resposta livre e ativa pela fé. A resposta de Maria ao convite do anjo foi: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38). Onde Zacarias respondeu ao convite do anjo com certa dúvida, Maria responde na liberdade e totalidade de sua fé. Por isso Isabel a saudará como: “Feliz aquela que acreditou” (Lc 1,45). Foi a fé que fez Maria correr pelas montanhas para visitar sua parenta. Foi a fé que fez Maria tornar sua maternidade um ato verdadeiramente humano porque ela concebeu com o coração muito antes de conceber com o corpo, conforme ensinaram os Padres da Igreja. A sua fé é um ato de liberdade que a fez verdadeiramente a Mãe de Deus.

Por meio do seu “faça-se”, Maria assinou como que um contrato em branco permitindo que Deus tomasse a direção de toda a sua existência. Ela não sabia o que seria impresso nesta página em branco. Com alegria, sem dúvidas, como atesta o cântico do Magnificat, Maria se entrega na fé ao Senhor, e assume as contradições, obscuridades e sofrimentos que lhe vieram.

Maria faz a experiência que a proximidade de Deus não a priva de desconfortos e exige caminhar na noite. Esta noite escura aparece por exemplo quando Maria e José procuram angustiados (Lc 2,48) o Filho que eles buscavam ao retornar de Jerusalém. A resposta que Jesus dá quando é encontrado é que Ele devia ocupar-se das coisas do Pai. Maria não compreende todo o sentido destas palavras. Mas meditou-as em seu coração.

Quando Jesus iniciou sua vida pública, a fé de Maria aceitou o distanciamento que Ele fez da casa de Nazaré. Maria não tem nada de uma mãe fictícia e nem possessiva, ela deixa que seu Filho viva sua vida. Ela se submete a refletir sobre a difícil relação entre pais e filhos quando estes se tornam adultos.

A sua intercessão discreta em Caná respeita a liberdade de Jesus e se conclui com o conselho que é um eco de todo o programa de sua vida: faça tudo o que Ele disser (Jo 2,5). Ela é Mãe de Jesus antes de tudo e sobretudo porque ela faz a vontade de Deus (Mc 3,35). Sua felicidade não vem tanto do fato de ter carregado e amamentado Jesus, mas por ter escutado a Palavra de Deus e a praticado (Lc 11,27).

 

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3