Intolerância Religiosa 

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo

O ENEM 2016 fez os inscritos no exame refletirem sobre um tema muito importante: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. A intolerância tem diferentes manifestações e a sua origem pode estar em indivíduos religiosos, nas orientações dos líderes religiosos, nas decisões institucionais das religiões. Não podemos esquecer que a intolerância também pode ter origem nas leis civis e nas ações de governos.

Como a questão central é refletir sobre “caminhos para combater a intolerância” vou apresentar algumas orientações oficiais da Igreja Católica dos últimos cinquenta anos. No dia 07 de dezembro de 1965 a Igreja publicou a “Declaração ‘Dignitatis Humanae’ sobre a liberdade religiosa. O Concílio Vaticano II declarou, nas palavras do papa Paulo VI, que “os homens todos devem ser imunes da coação tanto por parte de pessoas particulares quanto de grupos sociais e de qualquer poder humano, de tal sorte que em assuntos religiosos ninguém seja obrigado a agir contra a própria consciência, nem se impeça de agir de acordo com ela, em particular e em público, só ou associado a outrem, dentro dos devidos limites” (nº 2). A liberdade religiosa constitui-se como princípio fundamental.

No mesmo Concílio Vaticano II, foi publicado, no dia 28 de outubro de 1965, a “Declaração ‘Nostra Aetate’ sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs”. Este texto exorta à ação, à quebra de preconceitos e propõe a construção de pontes entre as diferentes religiões, através do diálogo. Diz a declaração: “Não podemos, na verdade, invocar a Deus como pai de todos, se recusarmos o tratamento fraterno a certos homens, criados também à imagem de Deus. A relação do homem para com Deus Pai e a relação do homem para com os irmãos de tal modo se interligam que a Escritura chega a afirmar: ‘quem não ama, não conhece a Deus’ (I João 4,8) (nº 5).

A partir destas orientações, foi criado na Igreja o Conselho para o Diálogo Inter-religioso cuja finalidade é manter uma instância permanente de diálogo. O diálogo se torna um meio eficaz para superar as intolerâncias. Com o diálogo se alcança uma compreensão mútua dissipando preconceitos e promovendo conhecimento mútuo. Do diálogo nasce o compromisso comum provendo valores humanos e espirituais, como por exemplo, a paz, o respeito à vida, dignidade, fraternidade, justiça, liberdade religiosa. O diálogo é fonte de enriquecimento mútuo pelo conhecimento dos valores e experiências religiosas do outro. Um bom diálogo é pautado no equilíbrio exigindo das partes esforço e boa vontade na busca da verdade. Quem dialoga parte da sua convicção religiosa. Ter clareza das próprias convicções permite compreender as convicções do outro.

Em 2008 a Igreja deu orientações sobre o uso do nome de Deus nas liturgias, orações e cantos, solicitando que não se usasse o nome Javé. Em hebraico o nome de Deus é escrito com o tetragrama «YHWH». A tradição judaica, diante da grandeza e majestade de Deus, não pronunciava o nome de Deus e quando aparecia no texto era substituído por Senhor. Esta orientação visa respeitar a tradição religiosa hebraica.

A CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil- tem, na sua organização, a Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o diálogo Inter-Religioso que atua permanentemente para a formação da consciência dos católicos e das relações com as pessoas de outras confissões religiosas e sem religião, como mantém o diálogo institucional.

 

 

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