Jesus e a Mulher Samaritana
Dom Remidio José Bohn – Bispo da Diocese de Cachoeira do Sul
O terceiro domingo da Quaresma é caracterizado pelo famoso diálogo entre Jesus e a mulher samaritana, narrado pelo evangelista João. A mulher ia todo dia tirar água de um poço antigo, que remonta ao patriarca Jacó, e nesse dia ela encontrou Jesus, sentado, “cansado do caminho” (João 4, 6).
Neste encontro com a samaritana, destaca-se, em primeiro lugar, o símbolo da água, que faz referência clara ao sacramento do Batismo, fonte de vida nova para a fé na Graça de Deus.
Ao pedir água à Samaritana, Jesus queria “abrir-lhe o coração”, “colocar em evidência a sede que havia nela”. Ela tinha ido pegar água do poço e encontrou outra água, a água viva da misericórdia que jorra para a vida eterna. Encontrou a água que procurava desde sempre.
A mulher representa o povo samaritano com sua tradição religiosa. Os seus “cinco maridos” são uma referência aos cinco deuses cultuados pelos antepassados (cf. 2Rs 17,29-32). Jesus oferece à mulher o verdadeiro culto, que é ele próprio. De fato, quem toma a iniciativa do diálogo é o próprio Jesus, que pede água. Corresponde à atitude do próprio Deus da aliança, que sempre busca o seu povo, apesar de suas infidelidades. A samaritana (imagem do povo impuro e marginalizado), não os líderes religiosos de Jerusalém, reconhece Jesus como o Messias, fonte de onde jorra água para a vida eterna.
A grande novidade de Jesus é a proposta de total mudança de mentalidade com relação a Deus: ele o chama de Pai. E, como Pai de todos, não necessita de determinado lugar para ser cultuado: nem na Samaria, nem em Jerusalém. A mudança de mentalidade também significa entrar numa nova relação com o próximo, a qual derrubará as barreiras entre judeus e samaritanos. Ambos os povos poderão adorar a Deus já não com rituais fixados pela rigidez legalista, mas “em espírito e verdade”.
Cada um de nós pode colocar-se no lugar da mulher samaritana: Jesus espera por nós, especialmente neste tempo quaresmal, para falar ao nosso coração, ao meu coração. Escutemos sua voz, que nos diz: “Se tu conhecesses o dom de Deus…” Ele nos oferece a “água viva”, que saciará nossa sede.
Somos chamados a redescobrir a importância e o sentido de nossa vida cristã, iniciada no Batismo e, como a Samaritana, testemunhar aos nossos irmãos a alegria do encontro com Jesus e as maravilhas que o seu amor realiza na nossa existência.