“Jesus, o verdadeiro Templo”

 

Minha saudação aos irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Estamos vivendo o tempo da quaresma, caminho de preparação para a Páscoa do Senhor. O espírito de oração, penitência e caridade nos aproxima do ideal da vida cristã no seguimento a Jesus Cristo, tornando-nos também mais próximos uns dos outros, pois, somos todos irmãos e irmãs, conforme nos lembra a Campanha da Fraternidade.

Prezados irmãos e irmãs. A Liturgia da Palavra deste domingo, o terceiro da Quaresma, nos convida a caminhar com Jesus para a Páscoa da ressurreição, vivendo os Dez Mandamentos. A primeira leitura retoma os Mandamentos. Nenhuma sociedade vive ou se organiza sem leis. Historicamente, todos os povos tiveram e têm suas legislações com a finalidade de ordenar a vida, dando-lhes rumo, organização, sentido e beleza. A sociedade “necessita de leis” em vista de relações justas para o bem da vida e dignidade de todas as pessoas. Os Dez Mandamentos constituem o núcleo central da Lei de Israel e da “ética bíblica”, sendo o ponto de partida da “ética cristã”.

A intenção da proclamação dos Mandamentos é recuperar a autêntica justiça profética e corrigir o mau funcionamento da sociedade. Por isso, são leis de vida. A autoridade deles está em Javé, o Deus que libertou Israel da escravidão egípcia (cf. Ex 20,2). Também podemos dizer que os Mandamentos são “Evangelho”, Boa-Nova que brota do coração libertador de Deus e corresponde aos anseios mais profundos de cada coração humano. A autoridade desta Lei encontra-se, portanto, n’Aquele que é a razão da fé e da esperança do povo, em todos os tempos e lugares, pois Ele é o “Deus vivo” (Dt 5,26), o Libertador por excelência, o Autor da Lei. Em síntese, podemos dizer que os Mandamentos regulam as relações das pessoas com Deus e com o próximo. Estas são suas atenções centrais. Além disto, eles revelam os grandes valores da vida humana, defendem os direitos e os deveres das pessoas, e de todos os povos, sendo estas leis sempre atuais.

A narrativa do Evangelho nos diz que, aproximando-se a Festa da Páscoa, Jesus com os discípulos dirigiu-se para Jerusalém. Chegando em Jerusalém, foi ao Templo. O Templo era o coração do povo judeu, o centro de sua vida religiosa, social e política. Para os israelitas, ali habitava o Deus de Israel. Por isso, o Templo era intocável. Porém, o que Jesus viu não tinha nada a ver com o que era esperado. “No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas… Fez, então, um chicote e expulsou todos do Templo… Espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas… E disse aos que vendiam pombas: Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2,14-16).

Caríssimos irmãos e irmãs. Para Jesus, aquele Templo, daquela forma, não era a “casa de Deus”! Seu gesto de expulsar a todos que faziam da “casa de oração” um espaço de comércio estava carregado de uma força profética e punha em questão o sistema econômico, político e religioso sustentado a partir daquele “lugar santo”. Para Jesus, o Deus libertador dos pobres, o Deus dos Dez Mandamentos não podia legitimar e sustentar uma prática injusta de uma sociedade exploradora. Por isso, aquele Templo era um grande obstáculo ao Reino de Deus e, com a chegada de Jesus, ele perdia sua razão de ser. Jesus passava a ser o “novo” e “verdadeiro Templo” no qual o povo podia encontrar-se com o Deus da vida.

Irmãos e irmãs. Hoje, para encontrar-se com Deus não basta “entrar numa igreja”. É necessário aproximar-se de Jesus, seguir seus passos, viver com seu espírito, acolher seu projeto. Orienta-nos neste seguimento a Jesus, os mandamentos que juntos somos chamados a viver, fortalecendo nossos laços de amizade com Deus e com os irmãos e irmãs. Fiéis a estes ensinamentos, preparemo-nos bem para celebrar a Páscoa do Senhor.

Deus abençoe a todos e bom domingo!

 

Dom Adimir Antonio Mazali – Bispo Diocesano de Erexim