João Batista hoje
Dom Remídio José Bohn – Bispo da Diocese de Cachoeira do Sul
No tempo de Advento a liturgia ressalta de modo particular, duas figuras que preparam a vinda do Messias: a Virgem Maria e João Batista. Neste segundo domingo do Advento, João Batista aparece como uma voz no deserto, fazendo um apelo à conversão, para preparar o caminho do Senhor.
João Batista se define como a voz que clama no deserto: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. Trata-se de uma figura impressionante, que fascina o povo. Tem um estilo de vida austero no vestir, no comer, no falar, no morar… Vive no “DESERTO”, lugar das privações, do despojamento, mas também lugar tradicional dos encontros entre Deus e seu povo.
A essência da vida de João, desde o seio materno, esteve subordinada a essa missão. Ele se entrega totalmente a ela, não por gosto pessoal, mas por ter sido concebido para isso. E vai realizá-la até o fim, até dar a vida, no cumprimento da sua vocação. A vocação abarca a vida inteira e leva a fazer girar tudo em torno da missão divina. Cada pessoa, no seu lugar e dentro das suas próprias circunstâncias, tem uma vocação dada por Deus.
É o profeta que prepara a vinda do Messias, anunciando por toda a região do Jordão o arrependimento dos pecados e o batismo para o perdão. Como precursor, indica-nos o caminho que devemos seguir.
Sua pregação continua a realizar-se nos dias de hoje em nossas comunidades, no mundo e em cada um de nós afim de que sejamos acolhedores da Redenção de Cristo. Embora sejamos tentados a buscar a felicidade nas coisas e a buscar a vitória em todos nossos sonhos (que Eu cresça e o outro diminua), precisamos tomar nossa decisão e, para isso, é necessária a conversão.
Batista nos ensina a viver de maneira essencial, para que o Natal seja vivido não só como uma festa exterior, mas sim como a festa do Filho de Deus que veio para trazer aos homens a paz, a vida e a verdadeira felicidade.
Dentro deste contexto, não posso deixar de manifestar a dor e solidariedade pelo trágico acidente aéreo, acontecido nesta semana em Medellin, colhendo a vida e os sonhos da “Chapecoense” e comovendo profundamente o mundo inteiro. Ao acompanhar as mais diversas expressões de solidariedade, destaco a carinhosa manifestação feita pela “Buena Gente” de Medellin, time “adversário” dos sonhos. Na hora em que seria a competição, o estádio e as ruas próximas estavam inteiramente tomados pelos torcedores e se transformaram em abraços de comoção, solidariedade e fé, acompanhados com manifestações das lideranças do esporte e governos. (Para mim, este gesto não é surpresa, pois tive o privilégio de conhecer e admirar este povo sofrido, quando convivi com eles em curso de estudos pastorais).
Interpretando este sinal dos tempos, observo que a dor vivida neste acontecimento abre uma nova esperança. A “Voz que clamou no deserto” ainda encontra eco no coração humano. Nossos relacionamentos e competições esportivas terão uma nova Luz… e nosso Natal será diferente!